O que teria acontecido caso Lula houvesse sido eleito em 1989? Alguém
acredita que, realmente, 800 mil empresários fariam as malas para
deixar o país, de acordo com o prognóstico alarmista do então presidente
da Fiesp, Mário Amato?
Nem a pau, Juvenal! O poder econômico trataria é de iniciar logo o
enquadramento do Lula que, a julgar pela maneira como procedeu ao
finalmente chegar lá, não oporia muita resistência ao descarte das bandeiras utilizadas para ganhar a eleição.
Desde o sindicalismo, sua trajetória era feita de acordos, com uma
greve aqui e ali para que as montadoras, alegando aumento de custos com a
mão-de-obra, pudessem contornar os congelamentos de preços impostos
pelos ministros da ditadura; se em 1989 os mandachuvas do mercado houvessem
sentado com o Zé Dirceu para acertar os ponteiros, como fizeram em
2002, nossa História teria avançado mais depressa... Para o mesmo lugar.
O Brasil não se tornou comunista sob Lula, a Itália não voltou ao
fascismo sob Berlusconi e é quase impossível os Estados Unidos serem
piores sob Trump do que foram durante a guerra ao terror de
Bush, quando justiça, direitos humanos e respeito à soberania das
nações viraram balelas no país que mais prega a democracia.
Nos três casos, vale ressaltar, os negócios continuaram sendo tocados
conforme a lógica férrea do neoliberalismo dominante, pois há bom tempo
o que realmente importa na economia deixou de ser decidido pelos
chamados dirigentes políticos, hoje reduzidos a meros fantoches do poder econômico.
As extravagâncias de certos presidentes e premiês se limitam ao
varejo, já que no atacado eles não têm permissão para botar as patas. Ou
alguém acredita que Trump conseguirá ressuscitar o protecionismo de
mercado num país que tanto lucra com o livre comércio, correndo o risco
de que ele venha a isolar-se juntamente com o Reino Unido, enquanto
Europa e Ásia estariam deitando e rolando?
Por que supormos que, com Donald Trump, virá o apocalipse? Bem mais
plausível é que, tendo atingido o objetivo de chegar à Casa Branca, ele
tire o macacão de palhaço e volte a se comportar como quem veste terno
de empresário.
Parece que, lembrando o grande Shakespeare, continuamos obnubilados pelas tempestades de som e fúria significando nada com que nos hipnotiza a indústria cultural.
A embalagem do capitalismo nos EUA vai mudar um tantinho, mas o
produto continuará igual. E o que realmente importa é o seguinte: seu
prazo de validade já expirou.
Está na hora de deixarmos de desperdiçar tempo com bobagens e
encararmos nosso verdadeiro problema, qual seja, o de evitarmos que a
agonia do capitalismo, com sua degringolada econômica e catástrofes
ambientais, arraste a espécie humana para a extinção.
Escrito por Celso Lungaretti
http://correiocidadania.com.br
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