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segunda-feira, 29 de maio de 2023

REFLEXÕES SOBRE JUNHO DE 2013

*Gerardo Santiago


A uma década das Jornadas de Junho de 2013, dizer o que? Para começar, não foi uma jabuticaba. Foi um evento que se insere em uma onda internacional de revoltas populares, da Grécia em abril de 2010 até o Chile em outubro de 2019, consequências diretas da crise da ordem neoliberal iniciada em 2008 e que contestavam os paradigmas macroeconômicos hegemônicos.   

Olhando para o Brasil de 2013, qual era o cenário? A Constituição "cidadã" que prometia um estado de bem estar social estava fazendo 25 anos sem cumprir suas promessas. O Partido dos Trabalhadores (PT) completava dez anos no governo, tendo deixado de ser um partido inimigo da ordem neoliberal para se adaptar a essa mesma ordem. A histórica relação do partido com os movimentos sociais passou a ser um elemento de contenção e moderação dos segundos. A classe dominante brasileira tolerava o lulismo e suas políticas sociais compensatórias muito por conta da capacidade de manter a "paz social". Até junho de 2013. 

Foi uma revolta de massas e com um perfil urbano e jovem. Seus detonadores foram a questão das tarifas do transporte público e a violência policial, coincidindo nisso com o "estallido social" chileno de seis anos depois. 

As bandeiras difusas e diversas levantadas em junho eram progressistas e tomadas em seu conjunto uma cobrança daquele estado de bem estar social prometido em 1988 e nunca entregue: hospitais "padrão FIFA", educação e transporte públicos idem.

É mentira que a direita tenha dado o tom das manifestações naquele junho, ela só conseguiu deslocar a pauta para o tema da luta "contra a corrupção" em setembro, com a bandeira de rejeição da PEC 37, que proibia o Ministério Público de fazer investigações criminais. A essa altura as ruas já estavam relativamente esvaziadas.

A contradição entre a enorme quantidade de recursos públicos alocados para a realização da Copa do Mundo de 2014 e a precariedade dos serviços prestados pelo estado brasileiro à população, exposta pela efervescência das ruas, tornou evidente que o "padrão FIFA" exigido para os estádios de futebol não existia nos hospitais e nas escolas públicas. 

Assim como em outros momentos da História do Brasil, a reação da classe dominante e seu aparato estatal diante do levante popular foi extremamente violenta. Em São Paulo, por trás da brutalidade policial estavam dois personagens hoje tidos como defensores da democracia, o então governador Geraldo Alckmin e seu secretário de Segurança, Alexandre de Moraes, o Xandão. No Rio de Janeiro (governo Sergio Cabral com a participação do PT), além da brutal repressão nas ruas a PM da UPP da Rocinha fazia "desaparecer", no pior estilo da ditadura, o pedreiro Amarildo. Talvez o emblema dessa reação violenta praticamente unânime do establishment ao descontentamento que transbordava nas ruas tenha sido a tuitada do ator Zé de Abreu ("Vai, PM!") aplaudindo a repressão violenta contra as manifestações.     

Para tentar resumir as Jornadas de Junho de 2013 em poucas linhas: foi um momento de acirramento agudo da luta de classes que tornou inviável a continuidade do arcabouço político da "Nova República" baseado na "polaridade" entre PT e PSDB. 

O bolsonarismo é resultado de 2013? Não como os adeptos das teorias conspiratórias do "ovo da serpente" e da "guerra híbrida" afirmam, mas não deixa de ser no sentido de que na política e na luta de classes que está sempre por trás dela, não existe vácuo. Como o lulismo não era mais garantia da "paz social" a classe dominante podia descartá-lo, o que fez no golpe parlamentar contra Dilma. Como as Jornadas de Junho haviam mostrado que uma insurreição popular ainda era uma possibilidade no horizonte, o advento do bolsonarismo foi a forma das oligarquias dizerem que o fascismo também o era. E por aí vai. A História desmente os liberais que decretaram o seu fim e prossegue impávida. A luta de classes também e por mais que se queira escondê-la, negá-la ou limitá-la a uma institucionalidade feita à imagem e semelhança da classe dominante, ela mais cedo ou mais tarde encontra o rumo das ruas.

*Gerardo Santiago é Aposentado do BB, Advogado e Militante PCB.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

O cavalo, o jacaré e os parâmetros para o debate.

Cid Benjamin *

Certa vez, numa discussão política a que assisti, um dos participantes fez uma pergunta que deixou o oponente sem resposta e os circunstantes, intrigados: “Quem é mais veloz, o cavalo ou o jacaré?” Diante da perplexidade geral, ele próprio respondeu: “Depende. Se a corrida é em terra firme, o cavalo ganha. Se é na água, ganha o jacaré.”

O objetivo da pergunta era demonstrar que quem estabelece os parâmetros de uma disputa está a meio caminho de vencê-la. Assim é na política. 

Esta semana, ao combater a decisão da Petrobrás de modificar os parâmetros usados para fixar os preços dos derivados do petróleo, a “Folha de S.Paulo” usou um artifício comum no (mau) jornalismo. Apresentou a opinião de pessoas apresentadas como “especialistas” para sustentar que o alinhamento dos preços internos com os praticados no exterior, como acontecia nos tempos de Michel Temer e de Bolsonaro, era o mais acertado.

Ora, apresentar o apoio de “especialistas” para reforçar opiniões sobre temas que não são estritamente técnicos é um truque pouco ético. Afinal, haverá sempre “especialistas” que defendem os mais diferentes caminhos. 

Por isso, por uma questão de honestidade, a “Folha” deveria ter ouvido também defensores da posição adotada pelo governo Lula. Este último considerou que, como os preços que incidem nos custos dos derivados de petróleo são internos, não haveria porque se adotar a chamada PPI (Paridade com Preços Internacionais). 

Buscar “especialistas” para respaldar uma determinada posição em ciências exatas - como a matemática, por exemplo - é plenamente admissível. Afinal, dois mais dois são quatro e não há o que discutir. Mas em temas políticos, econômicos ou sociais não é bem assim. Pode haver diferentes opiniões sobre as políticas mais adequadas diante de um determinado cenário. Todas elas têm a sua lógica. Mas – e aqui está o xis da questão – vão servir a diferentes interesses. 

A própria terminologia adotada num debate não é neutra. Muitas vezes já o encaminha para um determinado rumo.

Que cidadão sensato não desejaria para o seu país uma política econômica “responsável”? Quem não desejaria “responsabilidade fiscal” ou uma “política de austeridade”? Posta a questão desta forma, só mesmo irresponsáveis ou perdulários.

Acontece que as coisas são mais complexas do que aparecem à primeira vista. Nesse debate, a chamada “responsabilidade fiscal” significa priorizar a reserva de recursos para dar mais segurança a investidores (e especuladores) em títulos públicos. Mesmo que isso signifique cortar investimentos na área social – como, por exemplo, em saúde ou educação.

Com base nesse tipo de premissa que privilegia os interesses do capital financeiro, foram aprovadas leis draconianas contra os interesses da maioria da população – como a tal que fixava um teto de gastos nas despesas do governo. Da mesma forma, uma política de juros altos – e nisso o Brasil é recordista mundial! – estimula o rentismo e faz com que quem tenha capital prefira investi-lo em aplicações financeiras que não produzem um só parafuso e não criam um emprego sequer. 

Ninguém de bom senso defenderia que o Estado fosse irresponsável e não honrasse seus compromissos. Mas, por que os neoliberais não pensaram na criação de uma Lei de Responsabilidade Social, por exemplo, de forma a garantir que não faltem recursos para saúde, educação, defesa do meio ambiente, criação de empregos e auxílio para as camadas mais pobres que até ontem faziam fila para conseguir um pedaço de osso?

Para os neoliberais, a chamada Faria Lima e a nossa grande imprensa, ter isso como prioridade fugiria ao que deve ser uma “política responsável”.

É preciso travar seriamente esse debate. E, para tal, o primeiro passo é desmascarar mistificações que, em vez de esclarecerem as coisas, produzem falsidades. 

Nestes dias está sendo apreciado pelo Congresso o chamado arcabouço fiscal, apresentado pelo ministro Fernando Haddad. A proposta, que já era ruim, foi piorada pelo seu relator na Câmara dos Deputados. Cria novos tipos do antigo teto de gastos. Não permite, por exemplo, que os investimentos superem 70% do que for arrecadado – não importa qual seja esse valor. Com isso, abre as portas para que falte dinheiro para saúde ou educação, que têm pisos constitucionais. E, assim, estimula a privatização e a terceirização desses serviços, para que o teto do gasto público com eles não seja ultrapassado.

Mas - o que não deixa de ser sintomático - ficam fora do arcabouço fiscal o pagamento de juros e a amortização da dívida pública. Assim, são resguardados os interesses dos bancos, mas não os dos usuários de serviço públicos essenciais.

Apesar de todos os problemas, a proposta de Haddad tem sido elogiada pelos representantes do sistema financeiro, pelo Centrão e pela direita. É apontada como exemplo de responsabilidade. Mau sinal.

Por isso, ao se entrar nesse debate – fundamental para os destinos do País - é preciso esclarecer os termos usados e fugir das armadilhas. Aceitar o linguajar do inimigo é dar para ele a faca e o queijo. E, aí, ficamos como o cidadão que se deixou enrolar naquela questão sobre a hipotética corrida entre o cavalo e o jacaré, citada no início deste artigo.

Definir os parâmetros da disputa, como naquela disputa entre os dois animais, é essencial.

É o primeiro passo para combater as mistificações e evitar cascas de banana no debate.

*Jornalista

Fonte: Facebook

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Laudelina de Campos Melo, a sindicalista das mulheres.


À frente do primeiro Sindicato das Empregadas Domésticas do Brasil, ela era conhecida como o “terror das patroas”, o que já conta muito do seu ativismo.

Pioneira na luta pela valorização do emprego doméstico, Laudelina de Campos Melo é  uma das ativistas mais importantes da sua época – vive todo o século XX praticamente, de 1904 a 1991!  

Feminista, é personagem central na luta por condições dignas de trabalho para as empregadas domésticas, categoria profissional formada por uma maioria de mulheres pretas.  

Laudelina representa um divisor de águas na vida de toda uma geração, embora não tenha vivido para ver aprovada a Lei Complementar nº 150, de junho de 2015, que regulamenta os Direitos dos Empregados Domésticos e os iguala aos demais trabalhadores e trabalhadoras.

Treze de Maio

Laudelina nasce livre na Primeira República – oficialmente, não havia mais escravidão e o Brasil não era mais colônia de Portugal, “conquistas” dos anos de 1888 e 1889. 

Na prática, entretanto, nosso país mantinha o pensamento colonial e explorava o trabalho da população negra, como registra a sindicalista na tese “Etnicidade, gênero e educação : a trajetória de vida de D. Laudelina de Campos Mello (1904-1991)”, de autoria professora doutora em Psicologia Social, da Universidade Federal da Bahia, Elisabete Aparecida Pinto:

“A situação da empregada doméstica era muito ruim, a maioria daquelas antigas trabalharam 23 anos e morriam na rua pedindo esmolas. Lá em Santos, a gente andou cuidando, tratou delas até a morte. Era resíduo da escravidão, porque era tudo descendente de escravos.”.

Livre

Com 16 anos, vivendo em sua cidade natal – Poços de Caldas, em Minas Gerais -,  Laudelina – Nina, quando criança, e dona Nina, adulta – já participa do movimento negro e cria seu próprio grupo, o Treze de Maio, um ‘clubinho’, em resposta à  segregação racial imposta pelos brancos, que impediam a entrada de negros em espaços fechados de lazer.

Mais de 30 anos depois também, em 1954, morando no interior paulista, na cidade de Campinas, para confrontar o racismo estrutural, dona Nina, insubmissa, visionária, inovadora, abre a Escola de Bailado Clássico Santa Efigênia para meninas pretas, com professora de dança preta, em contraste com as escolas de bailes da sociedade branca que sequer admitiam alunas negras.

Raça e classe

Aos 20 anos – empregada doméstica desde os 17 -,  casada e com dois filhos, vivendo em Santos, no litoral paulista, cidade do seu marido, Jeremias Henrique Campos de Mello, Laudelina intensifica  seu ativismo, disposta a romper com velhas estruturas escravistas.

No início da sua carreira, o serviço doméstico era mencionado nas leis sanitárias e policiais somente com o intuito de proteger a sociedade contra a categoria, “percebida” explicitamente como ameaça em potencial às famílias empregadoras.

Laudelina queria mudar essa história, ansiava por justiça social, respeito, valorização do seu trabalho, pelo fim das desigualdades e da escassez de direitos e o primeiro passo, primordial para ela, era o despertar de uma consciência coletiva de raça e classe.

É com esta potência no pensar que nasce a primeira Associação de Empregadas Domésticas do Brasil, no ano de 1936, em Santos. 

Na pauta de reivindicações, auxílio às trabalhadoras e a seus familiares, inclusão da categoria na CLT, a Consolidação das Leis de Trabalho, que reunia todas as normas que regulam as relações de trabalho entre o empregador e os empregados, direitos e deveres de ambas as partes.

Infância interrompida 

Quando criou a associação das empregadas domésticas, aos 32 anos de idade, Laudelina já tinha 14 anos de profissão e 25 de experiência em afazeres domésticos, na cozinha e no cuidado com as crianças. 

Isso porque desde os 7 anos de idade ajuda a sua mãe, lavadeira, a cuidar dos cinco irmãos menores e no preparo de doces para vender. Seu pai, lenhador, morre em acidente trabalhista quando ela está com 12 anos. Mas, nessa época, ele já não morava com a família.

Quase como uma predestinação que assombra a vida de muitas crianças pretas e pobres, Laudelina, ainda no primário, é tirada da escola… Ainda os tentáculos da herança escravocrata. 

Tanto, que sua história continua a se repetir, neste no século XXI, no cotidiano de muitas crianças negras, apesar de todas as conquistas do nosso povo. 

O Mapa do Trabalho Infantil no Brasil conta  que as crianças negras representam 62,7% da mão de obra precoce no país. Quando se trata de trabalho infantil doméstico, esse índice aumenta para 73,5%, sendo mais de 94% meninas. 

Que sejam todas Laudelinas na garra, 

no desejo de escrever outra história…

Frente Negra

A  trajetória de Laudelina ganha mais contornos políticos na década de 1930. Além de ter criado  a primeira associação de  domésticas do Brasil, ela se filia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se torna uma das diretoras da  Frente Negra Brasileira (FNB), a maior entidade negra do século XX e primeiro partido político negro do país. Lá, ela cria o Departamento Doméstico com foco na conscientização da sua categoria.

A Frente Negra impunha-se como missão “integrar o povo preto à sociedade”, por meio de cursos profissionalizantes, da valorização da cultura negra, da conscientização racial, política e da luta por direitos da população negra e contra a violência policial.

Quando da instauração, em 1937, do Estado Novo  –  regime político caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e autoritarismo -,  toda e qualquer manifestação de grupos políticos, culturais e classistas fica proibida.

A Frente Negra não resiste, mas com o fim da também conhecida como “Ditadura Vargas”, em janeiro de 1946, a associação das domésticas volta à ativa e Laudelina enfrenta perseguições.

Na cadeia

Década de 1960, Campinas, interior de São Paulo, a vanguardista do movimento doméstico cria a primeira Associação Beneficente das Empregadas Domésticas daquela cidade.  

Com o golpe militar de 1964, que instituiu novamente uma ditadura no país, sua associação se ‘abriga’ na  UDN – partido União Democrática Nacional, para não fechar as portas.

Várias entidades trabalhistas, movimentos estudantis e organizações sociais e políticas entram na clandestinidade. E, desta vez, Laudelina é presa.  O crime? Ser comunista. 

A prisão dura pouco. A consequência maior é a sua destituição da  diretoria da Associação que criou. Mulheres brancas, patroas, assumem o comando da entidade que, logo, é fechada.

Passada pouco mais de uma década, a entidade é reaberta por sua fundadora que segue, nos anos 1970, na luta por reconhecimento, formalização e respeito pela atividade das empregadas domésticas.

Pesa, ainda, sobre a categoria o passado escravista de um país criado para discriminar o povo negro, o povo pobre, o povo trabalhador, mas que não abre mão de usufruir de seus serviços, sem pagar o preço justo por eles.   

Soldada comunista 

Registre-se que durante a Ditadura Vargas, Laudelina integrou, como voluntária, o Primeiro Batalhão Militar de Santos, mandado para a Itália na Segunda Grande Guerra (1939-1945). 

No campo de batalha, ela socorre as tropas, cuida da  alimentação dos combatentes e atua como soldada. E, ainda, desmascara um espião alemão infiltrado, fantasiado de freira.

No filme-documentário Laudelina, suas lutas e conquistas,  lançado em 2015, ela conta desse seu outro pioneirismo: 

“Negras tinham quatro. Sempre a minoria, né! Eu fui a primeira a me alistar no  primeiro batalhão. No segundo, tinham três.”

Atual

Laudelina de Campos Melo não completa 87 anos de vida – morre em  22 de maio de 1991. Na sua história,  69 anos de ativismo negro, sindical, feminista e 28 anos de trabalho doméstico remunerado. Em meados dos 1950, ela se torna empreendedora: monta uma pensão em Campinas e vende salgados em campos de futebol.

E essa sua jornada, inteira,  é de fundamental importância na trajetória de cada uma de nós. Como comenta a acadêmica Elisabete Pinto, em entrevista para o canal da Casa Laudelina de Campos Mello, a líder síndical sempre esteve à frente de seu tempo, contemplando, na sua ação, o olhar para a interseccionalidade – gênero, raça e classe – que torna a discriminação ainda mais pesada para a mulher negra: 

“Ela conseguia entender, à sua maneira, a interseccionalidade  entre gênero, raça e classe (…), trazia na prática a ideia que a gente tem hoje (…). Quando a gente fala em gênero, não é simplesmente da relação homem e mulher, mas relação de poder (…)  Quando se fala em mulheres empregadas domésticas, mulheres negras e brancas, patroas e empregadas, nós estamos falando de uma relação de gênero que expressa desigualdades entre as mulheres. Laudelina conseguiu perceber isso, algo que muitas feministas conseguiram perceber só depois.” 

Gratidão a esta mulher que veio antes, nascida em 12 de outubro de 1904, 16 anos após a lei do ódio ao povo preto, chamada lei áurea.

Linha do tempo: as leis trabalhistas e as empregadas domésticas

1988  – Com a Constituição, a Associação das Empregadas Domésticas se torna sindicato. A diferença é que o sindicato é mais político, preocupa-se com a mobilização, representa toda a categoria profissional, e a associação representa apenas seus filiados. 

1989 – É criada a organização não governamental Casa Laudelina de Campos Melo, formada por mulheres e jovens negras educadoras, com o objetivo de busca honrar o legado da líder sindical, a partir de ações focadas na autonomia econômica, na produção, na troca de conhecimentos, na formação e na qualificação profissional de mulheres negras.

2000 – É concedido o recolhimento facultativo (o empregador deposita se quiser) do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para as domésticas.

2013 – É promulgada a Proposta de Emenda Constitucional nº 72, conhecida como PEC das Domésticas, garantindo direitos iguais aos dos trabalhadores de outras categorias, com  carteira assinada (regime CLT), como férias remuneradas e adicional noturno.

2015 – A Lei Complementar 150  regulamenta a PEC nº 72 garantindo direitos trabalhistas a todos empregados domésticos. O depósito do FGTS passa a ser obrigatório, bem como seguro contra acidente do trabalho, indenização compensatória em casos de dispensa involuntária, adicional de horas extras de no mínimo 50% sobre período que exceder a jornada diária de trabalho de 8 horas e 44 horas semanais, hora noturna superior à diurna, intervalo para refeição e descanso, adicional de 25 % em casos de viagem com a família do empregador, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, seguro desemprego, auxílio-creche e salário família.

Fontes: Mapa do Trabalho Infantil, Livre de Trabalho Infantil, Brasil Escola,Casa Laudelina, Constituição Federal, História do Brasil (UOL), Geledés e G1

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Lula perguntou no Twitter: "o que acharam da cerimônia?"

*Gerardo Santiago

 Lula perguntou no Twitter: "o que acharam da cerimônia?", referindo-se à coroação de Charles em Londres. Vamos por partes. 

Primeiro, ela custou 100 milhões de libras ou US$ 125 milhões, pagos por um povo empobrecido por décadas de neoliberalismo e desmonte do estado de bem estar social.  

Segundo, uma manifestação republicana foi reprimida e 52 pessoas foram presas sem terem cometido crime nenhum, apenas por expressar uma opinião contra a monarquia. Se fosse em Beijing ou em Havana a mídia corporativa estaria falando em "autocracia" e "ditadura", mas como foram presos pela "democracia" britânica, tudo bem. 

Terceiro, esteticamente é um espetáculo que vai do cafona ao ridículo, sem esquecer de ser ofensivo ao evocar a memória da escravidão e do colonialismo quando exibe joias roubadas de outros povos, como o grande diamante africano no centro da coroa. 

Só que o mais importante não é a cerimônia, é o que ela celebra: uma das mais antidemocráticas ideias possíveis, a de que por nascer em determinada família alguém tem direitos que os cidadãos comuns não tem, dependendo da posição na família inclusive o de ser o chefe de estado não eleito. Este é o espírito de toda monarquia. 

Estamos quase no segundo quarto do século XXI. Que sentido faz um senhor de 74 anos, que jamais lavou o prato em que comeu nem nunca pegou no batente, paramentado com mantos, cetros e coroas da Idade Média e desfilando toda essa cafonice no centro de Londres e diante dos olhos do mundo? 

Respondendo a Lula, eu digo que vejo a cerimônia com tristeza e esperança. Tristeza por ainda existirem monarquias e principalmente porque gente até progressista se deslumbra com elas sem pensar sobre o que simbolizam e representam, inclusive ele e a Janja, me pareceu. Esperança porque as pesquisas mostram que a grande maioria dos britânicos abaixo de 25 anos de idade hoje são contra a monarquia e também porque uma onda de greves como há muito não se via varre hoje o reino de Charles, demonstrando que a vida real da esmagadora maioria passa longe do reality show glamourizado, anacrônico e medieval estrelado pela Casa de Windsor. 

Finalizo prestando minhas homenagens a Oliver Cromwell e a Maximilien de Robespierre, que pelo que vemos hoje decapitaram foi pouco.

*Gerardo Santiago é Aposentado do BB, Advogado e Militante PCB.


sexta-feira, 5 de maio de 2023

Bancário demitido e preso após golpe de 1964 é readmitido depois de 59 anos.

Um idoso de 80 anos foi readmitido em um banco na cidade de Feira de Santana, na Bahia, 59 anos depois de perder o emprego após ser preso pela Ditatura Militar. Osmar Ferreira, que era ligado à juventude do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi demitido sob a “acusação” de ser comunista.

Osmar era um jovem funcionário de uma agência do Banco da Bahia. Com uma metralhadora nas mãos, um sargento do Exército entrou na agência.

Ferreira foi recontratado pelo banco Bradesco, que comprou o setor de varejo do antigo banco na década de 1970 e acabou herdando os passivos da empresa. A readmissão ocorreu por meio de uma ordem judicial. A decisão pôs fim a uma batalha judicial que durava 12 anos entre Osmar e o Bradesco.

No dia 26 de abril, Osmar se apresentou para voltar a trabalhar no banco. À Folha de S.Paulo, o idoso disse ter ficado surpreso com a demissão.

“A demissão foi uma surpresa porque eu trabalhava muito e gostava do que fazia. Cortaram pela cabeça uma carreira de sucesso. Eu ia ser muito bem-sucedido no banco”, afirmou.

Osmar ainda era estudante quando começou a trabalhar no banco, aos 17 anos. Aos poucos, ascendeu a hierarquia interna da agência até chegar ao posto de chefe do setor de cobranças. Também foi gerente interino em treinamento para assumir a função em uma nova unidade.

Ao mesmo tempo, mantinha uma militância política fora do trabalho: foi líder estudantil, associou-se ao então clandestino PCB e ajudou a fundar a primeira entidade de classe de bancários de Feira de Santana. A associação virou sindicato em 1963 e Osmar passou a fazer parte da diretoria.

“A dor e o sofrimento permanecem até hoje. As bofetadas, os telefones [fortes tapas nos ouvidos que provocavam surdez temporária], a tortura de um modo geral, inclusive a psicológica, não vão se apagar nunca. Isso vai morrer comigo”, relembrou.

Sem perspectiva e com medo de ser novamente preso, passou a trabalhar como caminhoneiro com o pai e colocou o pé na estrada, ficando na clandestinidade por quatro anos.

Em 1974, Osmar conseguiu entrar na universidade e cursou a faculdade de Direito com o auxílio de um crédito estudantil. Foi advogado por cerca de 40 anos e trocou o interior da Bahia pela capital.

Em 2010, foi reconhecido pela Comissão de Anistia como perseguido político da ditadura militar e recebeu uma indenização de R$ 726 mil, paga na época em parcelas mensais.

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