PCB-RR

terça-feira, 25 de abril de 2023

A flor de Abril

*Andre Lavinas
Da flor que na Ásia nasceu
A semente se espalhou
E em África floresceu
A esperança que brotou.
A flor do operário e do professor,
Da costureira e da puta,
Flor do soldado e do soldador,
de todo mundo que luta.
No abril de dias brilhantes
Chegou cedo a primavera
Na nação dos Navegantes
Nada mais seria como era.
No 25, ao raiar do dia,
Pôs-se em marcha a rebeldia,
Demorada, mas nunca tardia,
Derrubando a oligarquia.
A flor daquele dia feliz,
Adubada pelos versos de Camões,
Brotou dos canos dos fuzis
E das bocas dos canhões.
Os lusíadas foram eclipsados
Pela epopéia daqueles bravos.
De Portugal, nobres soldados.
Era a revolução dos cravos.
André Lavinas: É empregado do BB, Ex- Diretor do Seeb Rio e Ex-Militante do PCB.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

AS CLASSES DOMINANTES não brincam em serviço na defesa dos seus privilégios.

*Milton Temer

SE A FEBRABAN, comitê central da banca privada,  tem papel decisivo na indicação de diretores do Banco Central, quase todos egressos ou futuros participantes de seus quadros, por que o MST não tem direito a nomear para o Incra??? Não se trata de instituições operacionais de políticas voltadas a uma Reforma Agrária ??

EVIDENTEMENTE, os telejornais vão levantar o tema da CPI sobre o MST, que nada mais faz do que por em prática a exigência constitucional de importância social para garantir o direito de propriedade privada no campo. 

AS CLASSES DOMINANTES não brincam em serviço na defesa dos seus privilégios. Cabe aos movimentos sociais terem firmeza na afirmação de seus valores, e aos meios de comunicação, até para cobrar as hesitações do governo Lula em relação às suas próprias promessas de campanha.

O QUE SE QUESTIONA é a razão de um governo dito popular e democrático, e seu ministro Paulo Teixeira, titular da área, terem  que se submeter à pressão de ocupações para fazer as nomeações que, operados desde o início do govero, não teriam sequer chamado a atenção para os truculentos do agronegócio que viesses a protestar.

*Milton Temer: Jornalista, Dep Estadual, Dep Federal, Partidos PT e PSOL até hoje.


terça-feira, 11 de abril de 2023

Privatização é apropriação privada do que é público.

*Gerardo Santiago

A recente pesquisa Datafolha sobre privatizações nos mostra várias coisas relevantes e dignas de nota. A que ficou mais escancarada foi a desonestidade da cobertura jornalística da mídia corporativa, cujo emblema foi a manchete da Folha de São Paulo: "apoio à privatização dá salto e chega a 38%". Para saber que 45% são contra, é preciso ler a matéria. O Globo, jornalão da família Marinho, foi na mesma linha, de destacar o que o pensamento único neoliberal considera positivo e noticiar muito discretamente o que ele não considera. 

Infelizmente, eles tem mesmo algo a comemorar. Entre 2017 e hoje o apoio às privatizações quase dobrou, de 20% aos 38% celebrados nas manchetes da imprensa "livre" a serviço do capital privado. Em boa parte isso pode ser atribuído à propaganda liberal ministrada em doses massivas por essa mesma mídia, mas é fato também que o trabalho dela é facilitado pelo recuo ideológico de uma esquerda que desistiu de qualquer perspectiva anticapitalista e adotou os valores e a lógica do sistema que antes ela combatia. Esse recuo não foi apenas no tema das privatizações, ele abrange toda a política econômica e também a visão sobre o sistema político e de governo, áreas em que a ex-esquerda claramente caminhou ao encontro do liberalismo nas últimas décadas.       

Um número significativo na pesquisa é que 28% dos eleitores que se identificam com o PT sejam favoráveis às privatizações. Outro é que entre os mais pobres, com renda até dois salários mínimos, quer dizer, potencialmente os mais prejudicados com a privatização de serviços públicos, o apoio seja de 34%. Outro ainda é que entre os mais jovens (faixa de 16 a 34 anos) seja majoritária a ideia de que os produtos ou serviços fornecidos por empresas privadas sejam de melhor qualidade que os fornecidos por empresas públicas ou estatais.  

O que está faltando é batalha ideológica. É mostrar que privatização é apropriação privada do que é público. Que é uma ação entre amigos, como foram as privatizações da telefonia e da Vale durante o governo FHC, entre outras. Que a longo prazo o produto ou serviço encarece em termos reais. Que causa desemprego e enfraquece a capacidade do estado agir sobre a economia. Que é mentira que a gestão privada seja mais honesta e eficiente que a pública e estatal, vide casos como o da Americanas S/A e dos bancos que precisam ser "resgatados" com dinheiro público, todos eles privados. 

Os liberais sempre disseram que privatizar, desregulamentar, eliminar direitos sociais e trabalhistas e reduzir impostos para os mais ricos é a receita da prosperidade geral, pois haveria mais investimentos e uma vida melhor para todos. Há quarenta anos a receita deles é seguida na maior parte do planeta e o resultado está aí para quem quiser ver: o mundo é mais desigual hoje que na época da Revolução Francesa. 

Precisamos de uma esquerda que diga com clareza que o capitalismo liberal e sua "democracia" idem são uma fraude, que aponte o dedo para cada uma das promessas não cumpridas pelo liberalismo hegemônico há décadas e principalmente, que saiba mostrar aos mais pobres que seus interesses são diametralmente opostos aos da classe dominante, que se o transporte público for privatizado, por exemplo, vai ser muito bom para os donos das empresas que o explorarem, mas que Dona Maria vai pagar mais caro que pagaria ele sendo público. E que ademais, coisas como educação, saúde, transporte e saneamento, entre outras, são direitos de todos, fazer delas produtos de mercado prejudica a imensa maioria.

*Gerardo Santiago: Aposentado do BB, Advogado e Militante do PCB.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

A estrutura do fascismo está intacta

"O fascismo está intacto. A estrutura política e criminosa, assumidamente envolvida na tentativa de golpe, ainda não foi abalada", indica

Não há mais o que dizer sobre o balanço dos cem dias do governo Lula. Mas pouco se disse sobre o balanço dos cem dias da extrema direita fora do poder e ainda viva e ativa.

O fascismo está intacto. A estrutura política e criminosa, assumidamente envolvida na tentativa de golpe, ainda não foi abalada.

A base social se reanima e se rearticula. É mobilizada pelo sentimento de que os terroristas presos depois do 8 de janeiro são parte do custo da guerra e apenas perdas pontuais distantes da maioria impune.

É nesse contexto que são percebidas as romarias de pretensos arrependidos em direção a Brasília, virtual ou presencialmente.

Enquanto se reorganizam, os arrependidos pedem trégua e mandam recados. Não são os pequenos, amadores e subalternos, mas os arrependidos do primeiro time de golpistas e terroristas.

Não são tampouco os arrependidos da direita pragmática do centrão que se vendem por dinheiros fáceis. Esses são os profissionais do arrependimento.

O personagem agora é o arrependido protagonista da criação e manutenção da estrutura do golpe. Que financiou o gabinete do ódio, desfilou ao lado de Bolsonaro como golpista e apresenta-se como convertido aos valores da democracia.

Não precisamos citá-los, para não cometer o erro de esquecer alguém. E os arrependidos são perigosos, vingativos, ameaçadores. Não é bom nominá-los.

Arrependidos poderosos têm imposição econômica e são frequentadores de rodas de amigos de nome não só da extrema direita.

São passadores de mãos nas costas, enxergam o Judiciário como extensão das suas empresas e têm base parlamentar. Com suas armas e chantagens, vão sugerindo tréguas que alguns consideram possíveis.

Sabemos que circulam em Brasília emissários de arrependidos de grosso calibre que só se arrependeram do que fizeram nos invernos pós-2016 porque a mais recente tentativa de golpe não deu certo.

Não é arrependimento, nem rendição em alto estilo, é um ensaio de cumplicidade com os vencedores, para que as sujeiras sejam negociadas, com possíveis adiamentos de punições e reparações.

O arrependido poderoso não é o cantor sertanejo que pede desculpas por ter apoiado Bolsonaro e procura conter as perdas financeiras da aposta errada.

Não é tampouco o alienado que Alexandre de Moraes visitou na Papuda e disse ter esperado no dia 8 de janeiro em Brasília que um marciano descesse na Praça dos Três Poderes para ajudá-lo a derrubar Lula e acabar com o Congresso e o Supremo.

O arrependido que manda recados a Brasília e agora se considera até admirador de Lula faz um movimento arriscado, mas vive de correr riscos.

Depois de investir tudo no golpe, andar de braços dados com Bolsonaro, disparar mensagens em massa para sua rede de satélites de tios do zap e de financiar o golpe, esse arrependido arrisca-se agora a fingir que se arrependeu.

É um gesto de esperteza, mais do que de acovardamento. Não é uma trégua. O farsante envia a mensagem e avisa: digo que me entrego, mas cabe a vocês acreditarem na minha rendição.

Só a esquerda que também acredita em marcianos golpistas pode levar a sério o arrependimento dos manezões fascistas às vésperas do fim de Bolsonaro.

Os falsos arrependidos, que reorganizam suas bases em cidades que Brasília não enxerga, só não podem subestimar todos os que recebem suas mensagens pacificadoras. Subestimem só os mais crédulos.

Não dá para acreditar que o fascistão impune, depois de sustentar as milícias do ódio, disseminar mentiras, fazer ameaças e tentar impor o golpe com muito dinheiro, possa enganar os que ele cercou ao agir como jagunço de Bolsonaro.

Não dá para acreditar porque toda a resistência ao fascismo estaria desmoralizada e perderia sentido.

Não há perdão para o fascista que acena com o pedido de trégua apenas para sobreviver, se rearticular e voltar a atacar.

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

fonte: https://www.brasil247.com/

Adelina, A Charuteira

 

Adelina nasceu no Maranhão por volta do século XIX e foi uma mulher escravizada, assim como sua mãe. Não se sabe ao certo qual era a sua função dentre os escravos, porém temos a informação que Adelina era filha de um rico senhor e, sendo assim, cresceu com a promessa de um dia ser libertada. Apesar das promessas, passou boa parte de sua vida sendo escrava do próprio pai.


Adelina sabia ler e escrever, habilidades incomuns e altamente desestimuladas, uma vez que a manutenção da escravidão dependia principalmente da submissão dos escravizados, que não apresentavam condições para questionar sua situação. A sua mãe criou todos os filhos do senhor e, no leito de morte, recebeu a promessa que ele libertaria a filha assim que ela completasse 17 anos.


Com o passar dos anos, o pai de Adelina empobreceu. Ele passou a fabricar charutos e, a partir de então, Adelina tornou-se responsável pela venda, deslocando-se duas vezes por dia até a cidade, passando em cada um dos bares que encontrava pelo caminho. Além dos charutos, Adelina também vendia fumo aos transeuntes.


Nas vezes que passava pelo Largo do Carmo, era abordada por estudantes do Liceu, que passaram a ser clientes. Enquanto fazia suas vendas, Adelina assistia aos comícios abolicionistas promovidos pelos estudantes do colégio, tornando-se uma frequentadora assídua e parte do movimento.


O conhecimento que Adelina possuía da cidade e sua facilidade em transitar sem levantar suspeitas, uma vez que andava de rua em rua vendendo fumo, acabou por ser um trunfo para o movimento abolicionista. A charuteira observava e antecipava as ações da polícia, conhecia suas rotas e se certificava de avisar os integrantes do movimento caso notasse qualquer ameaça. Ela era responsável por enviar informações e estratégias dos escravistas à Associação Clube dos Mortos, que escondia escravos e promovia suas fugas.


Sua atuação como uma mulher negra que lutou contra a escravidão, porém, não é reconhecida por uma boa parcela da população brasileira. O seu nome foi invisibilizado na história nacional, assim como muitos outros, devido ao racismo e ao machismo daqueles que detêm a narrativa.


Texto de Francielle Luz e Jonas Vincent publicado no site GFT

sábado, 8 de abril de 2023

AINDA SOBRE A HISTÓRIA DE UMA PLACA!

*Ivan Pinheiro

Recentemente, o militante do PC chileno Mauricio Leandro visitou a sede nacional do PCB no Rio de Janeiro, entusiasmando-se com a história da placa cuja foto ilustra este texto.

Voltando ao Chile, aquele camarada manteve comigo uma simpática conversa virtual e, em seguida, divulgou seu inspirado artigo “101 anos do PCB: a história de uma placa”, publicado no Brasil pelos portais Opera Mundi [¹] e O Poder Popular.

Este fato suscitou há alguns dias um afetivo encontro naquela sede entre os militantes que havíamos participado da ação de resgate das letras e símbolos que compõem a placa e que, naquele momento, estavam em local inadequado, ou seja, na antiga sede do então Comitê Central, cujo núcleo dirigente conspirava para liquidar o partido alguns dias depois. 

Esta ousada ação de resgate se deu às vésperas de um inexorável racha partidário, marcado para acontecer em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1992, em uma farsa cinicamente chamada de “X Congresso do PCB”, fraudado com o direito de voto atribuído a não militantes do partido e sem qualquer anteprojeto de tese política para debate, restrito à proposta de assassinar o PCB e escolher o nome do partido “laico” que o sucederia! A pasta fornecida aos “delegados” continha apenas algumas folhas de papel em branco e uma caneta!

O objetivo da bem sucedida ação de resgate daqueles símbolos era preservá-los para que, pouco tempo depois, viessem a ser ostentados naquela que seria a nova e verdadeira sede do CC, como uma lembrança da vitoriosa luta de milhares de camaradas que, em sua maioria, não mantiveram o PCB apenas por nostalgia ou patriotismo partidário, mas para reconstruí-lo desde uma perspectiva revolucionária. 

Em nossas recordações, relembramos todos os detalhes da operação, desde o planejamento, o nosso encontro às 5 horas da manhã, as ferramentas utilizadas, a delicadeza de seu uso para preservação das peças retiradas do local, o transporte delas para fora do edifício, sua guarda em local seguro e as cervejas com as quais brindamos o êxito da empreitada, no lugar do café da manhã! 

Lembramos de algumas reações, como a da camarada Zuleide, que se indignou com a nossa iniciativa, não por a termos levado a efeito, mas por não ter sido convidada a dela participar!

Foi com muita emoção que reencontrei, agora maduros, esses então jovens comunistas que aceitaram de pronto o chamado para aquela tarefa. Pela ordem na foto, da esquerda para a direita (física e não politicamente!), tenho orgulho de estar entre os camaradas Paulo Jorge (PJ ou Paulão), Jorge Luiz Fernandes (Jorginho) – desde então militantes no sindicalismo bancário do RJ – e Carlos Gustavo Tamm (Gugu), conceituado matemático e atual Presidente da Associação Cultural José Marti, de solidariedade a Cuba. [²]

Não posso deixar de lembrar que retiramos os símbolos e letras com muito zelo da parede onde não mereciam estar, um por um, para depois serem colocados neste vistoso painel de madeira pelo meu amigo e camarada de lutas Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, mais conhecido como Gaiola, que aprendeu o ofício de carpinteiro para sobreviver no seu segundo exílio, desta vez na França, após a saída dos exilados brasileiros que viviam no Chile, em função do golpe da burguesia local e do imperialismo contra Salvador Allende, que pagou com a própria vida.

Guapimirim (RJ), 8 de abril de 2023

[¹] - https://operamundi.uol.com.br/permalink/79797

[²] - Infelizmente, o camarada Elvis Marciano, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários do RJ e ativo participante daquela ação, não pode estar presencialmente em nosso encontro como desejava, por conta do advento de compromisso imprevisto.

*Ivan Pinheiro é bancário aposentado; foi Presidente do Sindicato dos Bancários do RJ e Secretário Geral do PCB, em que segue militando.