PCB-RR

sábado, 11 de setembro de 2021

NÃO NOS ILUDAMOS COM O APARENTE RECUO DE BOLSONARO:

Muito menos com as manifestações deste domingo!

Ivan Pinheiro

(10 de setembro de 2021)

 

No início da noite de ontem, tornou-se pública a vergonhosa e cínica “Declaração à Nação”, através da qual Bolsonaro recua de suas ameaças feitas no 7 de setembro, dizendo agora que não teve “intenção de agredir quaisquer poderes” e que suas palavras “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento”.

Não há dúvidas de que o falso valentão fascista foi momentaneamente enquadrado pelo “comitê central da burguesia”, ao qual servem em tarefas operativas os comandos das forças armadas, do judiciário e do parlamento.

Com a hegemonia absoluta de que desfrutam em nosso país, ainda mais com o predomínio do sindicalismo pelego e do reformismo na chamada esquerda, nesta quadra as classes dominantes não precisam de golpes, ditaduras e muito menos do fascismo, armas a que recorrem para manter seus interesses, diante do ascenso de lutas populares, de riscos de insurreições e até mesmo de modestas reformas progressistas.

Mas mesmo Bolsonaro tendendo a partir de agora a perder em entusiasmo entre a parte mais radicalizada de seus apoiadores que foram às ruas respaldar a farsa da ameaça de golpe, o germe do fascismo restará em nossa sociedade como herança maldita da ofensiva reacionária, a partir de 2013, contra o reformismo cosmético e conciliador dos governos petistas, que não ousaram sequer tocar de leve nos fundamentos estruturais do capitalismo.

Essa ofensiva, insuflada pela mídia burguesa e operada por muitos atores e instituições que hoje se vestem de democratas, pavimentou o impedimento de Dilma e o caminho de Bolsonaro à Presidência, com o objetivo de avançar a pauta de contrarreformas que o petismo tinha dificuldade de oferecer com a pressa e a intensidade exigidas pelo capital. Curiosamente, por agora atrapalhá-las, Bolsonaro pode vir a ter o mesmo destino.

Mas não é hora de fazer prognósticos. A partir de agora, tudo pode acontecer, inclusive o presidente da Câmara rasgar ou desengavetar os pedidos de impeachment ou ainda a costura de um pacto no andar de cima, em que Bolsonaro siga como figura decorativa, a troco de uma garantia de não punição a ele e seus zeros filhos.

Não podemos descartar inclusive um novo surto golpista do inacreditável presidente, por pressão dos que hoje lhe cobram, com razão, o sacrifício com que se entregaram para militar a favor do “momento histórico” que imaginavam protagonizar e dos riscos que correram como soldados do alucinado capitão de bravata. O problema é que, independente de Bolsonaro, consolidou-se uma direita fascista orgânica e articulada, como se depreende da invasão da Esplanada dos Ministérios, na noite do 6 de setembro, e no posterior bloqueio de rodovias.

Muita água vai rolar ainda debaixo desta ponte.

Mas não posso deixar de registrar minhas preocupações com a posição de algumas forças tidas como “de esquerda”, em face das anunciadas manifestações deste domingo, 12 de setembro.

Em análise de conjuntura que expus no programa que o canal O Poder Popular transmitiu neste 7 de setembro, defendi que as forças anticapitalistas e anti-imperialistas não poderiam descartar, de forma doutrinarista, a disputa política de manifestações antibolsonaristas, com independência e unidade, ainda que elas se ampliem com a adesão de setores liberais e conservadores. Esta é uma questão de natureza tática, não de princípio.

Mas este definitivamente não é o caso das manifestações convocadas para este 12 de setembro. Não se trata de iniciativa para se somar às lutas em curso, mas de um atalho para desviar seus rumos.

Citei como exemplo o acerto de termos participado de lutas unitárias, como aquelas por eleições diretas (1984), mesmo quando - por conta de uma correlação de forças desfavorável, para a qual contribuiu o reformismo e a falta de independência de classe do PCB - elas foram aparelhadas por setores das classes dominantes, que trataram de conduzi-las para soluções que correspondiam a seus interesses. O mesmo ocorreu mais tarde no “Fora Collor”.

A insistência do PCB na política de frente ampla, equivocada desde o início dos anos 1980, contribuiu para o pacto de elites que resultou na eleição indireta de Tancredo e Sarney e na chamada “transição democrática”, na verdade a substituição “lenta, segura e gradual” da forma ditadura militar de exercício da hegemonia das classes dominantes para legitimá-la sob o manto da ditadura disfarçada de democracia burguesa.

Quando expus estas opiniões, não havia ainda tido notícia da absurda decisão de figuras da esquerda parlamentar (do PDT, PSOL e PCdoB) de adesão às manifestações capitaneadas pelo MBL, movimento de direita liberal que impulsionou o golpe que levou ao impedimento de Dilma Rousseff e à eleição de Bolsonaro, apoiada por estes golpistas.

Ao contrário dos grandes atos de massa no auge da campanha “Diretas Já!”, convocados por praticamente todas as vertentes da oposição à ditadura, a manifestação deste domingo é uma iniciativa assinada pelos setores de centro e de direita, com uma pauta estritamente institucional, com vistas às próximas eleições.

Trata-se de uma manobra, insisto, para tomar o protagonismo da esquerda nas manifestações e desviá-las para um novo pacto burguês, com vistas a fortalecer a hoje desidratada “terceira via” ou, se isso não for possível, render-se ao favoritismo de Lula, para rebaixar mais ainda o nível de conciliação e “união nacional” que ele se dispõe a oferecer ao capital. O PT e outros setores da esquerda socialdemocrata que tendem a apoiar Lula no primeiro turno podem até ser atraídos por esta iniciativa, de olho nesta segunda hipótese.

Como a campanha eleitoral de 2022 na prática já começou, este é um sinal de que as manifestações antibolsonaristas poderão bifurcar-se a partir de agora, o que não ocorreu em 1984, porque não havia eleições marcadas, mas a luta por elas, que só vieram acontecer em 1989.  

Esta manobra da centro-direita é mais uma nova e importante razão para que as organizações políticas e populares de orientação anticapitalista e anti-imperialista abram um diálogo entre si, na perspectiva da unidade de ação nas próximas lutas, sejam quais forem os campos desta batalha, com o objetivo de construir um bloco político com total independência, não só em relação à centro-direita burguesa, como também aos socialdemocratas que sempre apostam tudo nas eleições seguintes, iludindo os trabalhadores com a falácia da administração “progressista” do capitalismo.

Esta unidade de ação não pode ser apenas tática, restrita às lutas conjunturais e institucionais. Não cumprirá seu potencial estratégico se não a ligarmos às bandeiras pelos direitos e necessidades imediatas do proletariado e à agitação e propaganda da luta pelo socialismo.

A luta contra os governos burgueses de plantão não pode ser dissociada do combate ao capitalismo.

(Ivan Pinheiro é membro do CC do PCB)

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A estratégia e a tática do golpe

Afonso Costa 

A estratégia do capitão reformado e dos seus cúmplices é manter a Presidência e tomar o poder, fazendo do Judiciário e Legislativo meros coadjuvantes. O povo? O povo é apenas o povo, não tem importância, serve apenas para gerar mais-valia e aplaudir suas barbaridades.

Assim, o capitão reformado, arbitrariamente feito presidente, atua com quatro objetivos táticos concomitantes: barrar qualquer tentativa de impeachment; acabar com as investigações contra seus filhos e aliados acusados de corrupção; coesionar seus apoiadores em torno de um projeto golpista que já está em andamento; e preparar as bases para o clímax do golpe, que seria efetivado através do não reconhecimento da iminente derrota eleitoral – caso não seja possível dar o golpe antes, o que é cada vez mais improvável.

Em queda nas pesquisas de opinião, responsável direto pela morte de quase 600 mil pessoas e 21 milhões de infectados pela Covid-19 (até agora), pelo desemprego recorde, fome e miséria que assolam o país, além da entrega das empresas públicas e recursos naturais para o capital, seu governo é um fiasco.

Os únicos beneficiados são o capital e os marginais que o apoiam e implementam sua “política”, devastando a natureza, matando e intimidando os povos originários, trabalhadores rurais e das comunidades carentes, extinguindo direitos trabalhistas, dando de mão beijada para a burguesia as empresas públicas, os parques nacionais, os recursos financeiros etc.

Por trás deste cenário existe uma verdade inquestionável: ele sabe que cometeu e comete crimes, que é passível de prisão. Daí sua fala no dia 7 de setembro, no qual reuniu seus apoiadores, quando afirmou só sair do governo “Preso, morto ou com vitória… Nunca serei preso”. As contradições entre sair x vitória e (só saio) preso x nunca serei preso saltam aos olhos.

O atual governo foi e é patrocinado pelos militares, que ocupam cargos de alto escalão no próprio governo e nas empresas estatais, além de benesses incompatíveis nos quartéis – somente para os oficiais, claro. Não é a primeira vez que os militares atendem aos interesses da burguesia em detrimento do país, do povo, do juramento que fizeram. A história que o diga.

Mas quem está por trás é a burguesia, desde o impeachment forjado contra a ex-presidente Dilma, até a posse de Temer e a eleição fraudulenta que levou o capitão reformado à Presidência. Diante da crise do capital que já dura anos, o interesse é maximizar os ganhos através da dívida pública, abocanhar as empresas estatais estratégicas, apropriar-se dos recursos naturais, com destaque para o pré-sal e os minérios, além das reservas naturais pertencentes aos povos originários e à preservação ambiental. Afora o aumento da mais-valia, porto de partida de todas as iniciativas da burguesia através dos tempos.

Ainda que através do ministro banqueiro a burguesia esteja conseguindo alcançar seus objetivos, com fortes prejuízos para o país, essa mesma burguesia está insatisfeita e temerosa dos arroubos autoritários do atual presidente e já começa a abandonar o barco, vide documento da Fiesp e o apoio da Febranan, com a óbvia exceção do BB e da Caixa. Até o Senado rejeitou outra nova reforma trabalhista proposta pelo governo.

Não é do seu interesse uma crise institucional que ponha em risco tudo que conseguiu desde 2016. Afinal, os exemplos da Argentina, Chile, Peru e principalmente da Bolívia, afora a resistência da Venezuela, mostram que a América do Sul redobrou os esforços para livrar-se do julgo do imperialismo.

O crescente retorno das manifestações populares é outro fator determinante para esse recuo tático da burguesia. Mais vale preservar os braços do que perder a cabeça. Seu objetivo é continuar sendo o verdadeiro poder do país.

Diante disso, resta à verdadeira oposição redobrar as manifestações de rua, a organização dos trabalhadores e população em geral na busca de uma alternativa realmente popular de governo. Só assim nos veremos livres do jugo imperialista e dos ditadores de plantão.

Não é o momento de quaisquer recuos táticos, o genocida está acuado e isolado, recuar agora é dar o espaço político que ele precisa para tentar reverter sua situação. Se toda vez que houver possibilidade de enfrentamento as forças populares recuarem, não se vai a lugar nenhum, a vitória do fascismo é certa.

Depois, depois o café esfria, a cerveja fica quente. A hora é agora!

 

Afonso Costa é jornalista.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Um sindicalismo sem rumo.





Com preocupação, mas sem surpresa, comento sobre a nota das centrais sindicais intitulada "Resgatar o Brasil para os brasileiros". A nota fala dos dramas do povo trabalhador como a fome e o desemprego, mas coloca a culpa, basicamente, no Governo Bolsonaro. A presidência é uma espécie de espantalho para não criticar a Câmara, o Senado e o STF que são parceiros e peça fundamental em todos os ataques em curso contra o povo trabalhador.

Pior e mais greve. Reduzindo tudo ao governo Bolsonaro, poupando todas as outras "instituições", a nota das centrais não fala nada, ABSOLUTAMENTE NADA, sobre a ofensiva burguesa, a ação violenta e decidida da classe dominante para acabar com qualquer direito trabalhista, condições de trabalho e salário!
E qual é a proposta de ação das centrais? Basicamente, na prática, esperar 2022 e rezar para as instituições (as mesmas que estão rasgando os direitos trabalhistas!) - o trecho: "É preciso que o legislativo e o judiciário em todos os níveis, os governadores e prefeitos, tomem à frente de decisões importantes em nome do Estado Democrático de Direito".
É tarefa central dos comunistas, na luta para reconstruir o sindicalismo brasileiro, combater duramente junto as bases essa linha política que para ser rebaixada precisa melhorar muito. A história apresenta uma encruzilhada. Não é tempo de vacilações, mas sim de nadar contra a maré do social-liberalismo e do total abandono da luta de classes.

Jones Manoel historiador e militante do PCB