A
Cidade Maravilhosa perdeu um tanto do seu encanto nesta fatídica
terça-feira, dia 1º de outubro. Nosso alto astral foi agredido por
bombas de gás lacrimogênio, sprays de pimenta, cassetetes, botas,
escudos e capacetes contrários às bermudas e aos biquínis, ao samba e ao
chopp, ao calçadão de Madureira e da Avenida Atlântica.
Paulo
Freire, o maior educador de nossa história, chora em seu túmulo as
lições ensinadas pela polícia dos senhores Cabral e Paes: agredir os
professores, intimidar os educadores, estuprar o sonho de ensinar e
aprender na escola, demonstrar na prática que a violência sobrepõe-se à
razão.
A
barbárie promovida na Cinelândia manchou o palco das manifestações pela
Anistia, Diretas Já, Constituinte. Sujou as pedras nas quais passaram
os pracinhas da FEB, a campanha do Petróleo é Nosso, a Orquestra
Sinfônica Brasileira, a seleção campeã do mundo. Maculou a memória do
nosso povo, sistematicamente empurrado para a ignorância, o
desconhecimento e a falta de informações a fim de perpetuar no poder
aqueles que jamais o deveriam ter alcançado.
Um
prefeito que admite em público não ter recursos para pagar digna e
democraticamente os professores, admite a falência do Estado enquanto
provedor do bem-estar público. Se não há recursos para pagar os
professores, há recursos para o quê? Se aos professores é negado o
direito de lutar e se manifestar por melhores condições de vida e de
trabalho, o que é garantido ao cidadão comum? Quais direitos temos
diante da sanha tecnocrata que persegue apenas o lucro privado?
Que
Casa do Povo é essa, na qual esse mesmo povo não é bem vindo quando
quer dizer o que realmente pensa? Que representantes do povo são esses,
submissos ao mandatário de plantão e contrários a disseminar o
conhecimento?
As
nuvens que cercam o Cristo Redentor nesta quarta-feira, dia 2, retêm as
lágrimas dos cariocas, atingidos em seu peito pelo efeito imoral de
bombas, prisões, agressões e todo tipo de violência empregados contra os
únicos capazes de construir condições para superar esse status quo:
nossos mestres.
Afonso Costa
Jornalista
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