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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Triste é o país que agride seus mestres

A Cidade Maravilhosa perdeu um tanto do seu encanto nesta fatídica terça-feira, dia 1º de outubro. Nosso alto astral foi agredido por bombas de gás lacrimogênio, sprays de pimenta, cassetetes, botas, escudos e capacetes contrários às bermudas e aos biquínis, ao samba e ao chopp, ao calçadão de Madureira e da Avenida Atlântica.

Paulo Freire, o maior educador de nossa história, chora em seu túmulo as lições ensinadas pela polícia dos senhores Cabral e Paes: agredir os professores, intimidar os educadores, estuprar o sonho de ensinar e aprender na escola, demonstrar na prática que a violência sobrepõe-se à razão.

A barbárie promovida na Cinelândia manchou o palco das manifestações pela Anistia, Diretas Já, Constituinte. Sujou as pedras nas quais passaram os pracinhas da FEB, a campanha do Petróleo é Nosso, a Orquestra Sinfônica Brasileira, a seleção campeã do mundo. Maculou a memória do nosso povo, sistematicamente empurrado para a ignorância, o desconhecimento e a falta de informações a fim de perpetuar no poder aqueles que jamais o deveriam ter alcançado.

Um prefeito que admite em público não ter recursos para pagar digna e democraticamente os professores, admite a falência do Estado enquanto provedor do bem-estar público. Se não há recursos para pagar os professores, há recursos para o quê? Se aos professores é negado o direito de lutar e se manifestar por melhores condições de vida e de trabalho, o que é garantido ao cidadão comum? Quais direitos temos diante da sanha tecnocrata que persegue apenas o lucro privado?

Que Casa do Povo é essa, na qual esse mesmo povo não é bem vindo quando quer dizer o que realmente pensa? Que representantes do povo são esses, submissos ao mandatário de plantão e contrários a disseminar o conhecimento?

As nuvens que cercam o Cristo Redentor nesta quarta-feira, dia 2, retêm as lágrimas dos cariocas, atingidos em seu peito pelo efeito imoral de bombas, prisões, agressões e todo tipo de violência empregados contra os únicos capazes de construir condições para superar esse status quo: nossos mestres.

A eles, muitos mais que nosso carinho, nossa solidariedade, pois sua demanda também é nossa, é de todos os brasileiros do bem, a imensa maioria. Sua luta e sua bravura hão de predominar em nossa História.

Afonso Costa
Jornalista

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