O quadro atual do movimento sindical é de refluxo. Com 11 milhões de
desempregados, as lutas econômicas estão em acentuado descenso. Mesmo em
categorias numerosas e bem organizadas, as greves são derrotadas, não
conseguindo nem a reposição da inflação. As lutas econômicas isoladas
são incapazes de derrotar os ataques do governo da burguesia e do
imperialismo. Diante da crise sistêmica do capitalismo, a burguesia,
como sempre, quer que os trabalhadores paguem pela sua crise. O ataque
do Capital se mostra amplo, isto é, atingirá toda a classe trabalhadora.
A luta contra os ataques do governo Temer passa necessariamente pela
luta política. A luta de classes no país tende a subir a patamares nunca
atingidos. E somente a luta unitária e de massas poderá barrar e
derrotar esses ataques. Mas para que isso aconteça é necessário cumprir
algumas tarefas.
Para enfrentar essa situação crítica, uma das tarefas dos
revolucionários é superar uma deficiência histórica do movimento
sindical brasileiro: a organização por local de trabalho. Sem ela, a
luta econômica é fraca e defensiva, ficando nos limites da
espontaneidade das massas. E a luta política sem a organização por local
de trabalho torna-se muito difícil, quase impossível. Em nossa história
recente temos exemplos de momentos importantes da luta política – o
Golpe de 64 e a Ditadura empresarial-militar – nos quais a greve geral
não ocorreu ou obteve fracos resultados em virtude da débil ou
inexistente organização por local de trabalho. Não é à toa que a
burguesia não aceita a organização dos trabalhadores nos locais de
trabalho. Ela tem consciência do perigo que isso representa – afinal, a
burguesia está na luta de classes.
A burocracia sindical, subserviente ao capital, por motivos óbvios e por
instinto de sobrevivência, não faz esse trabalho. No máximo, faz a
cooptação de novos militantes, corrompendo-os com o aparato sindical. É
evidente que não podemos contar com os dirigentes sindicais reformistas
para essa tarefa. Queremos, sim, a sua base, os trabalhadores. Por
outro lado, organizações de esquerda procuram recrutar novos militantes
que surgem dos movimentos grevistas e populares. Devido sua pequena
inserção no movimento operário-popular, esses grupos, procurando
visibilidade, atuam nos comitês, fóruns, comandos, ou seja, priorizam o
trabalho de cúpula e não fazem o trabalho de base.
O trabalho de organização por local de trabalho é relegado a segundo,
terceiro plano, ou mesmo, na maioria dos casos, não realizado. Esse
trabalho não rende resultados imediatos, seus frutos geralmente aparecem
a médio e longo prazo. É uma atividade que requer paciência e
persistência, principalmente levando-se em conta o atraso político do
movimento operário-popular brasileiro. É um trabalho que o
“revolucionário pequeno-burguês radical”, por sua pressa, pouca firmeza e
falta de determinação verdadeiramente revolucionária, é incapaz de
realizar.
Temos companheiros com muita experiência nas lutas sociais que estão
desgarrados, desorganizados, que muito podem contribuir para a luta.
Esses trabalhadores avançados, apesar de não terem a consciência de
classe comunista, têm uma consciência política mais ampla, sabem dos
limites da luta sindical, não tem ilusões quanto aos seus inimigos e são
respeitados pelos demais trabalhadores, sendo uma referência para eles.
Não podemos desconsiderar esses companheiros. Eles poderão contribuir
para atrair a massa para a luta. A tarefa dos revolucionários é
arregimentar os trabalhadores avançados no plano político-sindical com o
objetivo de criar círculos, comissões e comitês por local de trabalho,
para promover debates e divulgar propostas de ação para a categoria,
sempre com o cuidado de preservar o grupo.
A unidade das forças classistas é fundamental para enfrentar a
conjuntura atual. Independentemente de posições políticas diferentes e
evitando hegemonismos, devemos, através da organização por local de
trabalho, construir uma frente única nas fábricas, empresas e escolas
para enfrentar e derrotar os ataques do governo. Sem dúvida, é um passo
importante para avançarmos na construção de um bloco anticapitalista e
anti-imperialista.
Paulo Cesar De Biase Di Blasio*
* Professor da rede estadual em Nova Friburgo/RJ
De UC Nacional
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