PCB-RR

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Outra primavera é inexorável*

A vitória do fascismo nas eleições deste ano representa a vitória dos bancos, das transnacionais, do agronegócio e da indústria extrativa mineral, aliados às bancadas da bala, da bíblia e outros setores conservadores que vem crescendo na política brasileira desde a década passada.

Não é pra menos. O capitalismo concorre com vários candidatos em todas as eleições. Na disputa presidencial deste ano havia à direita o MDB, o PSDB, o Podemos, o Novo, a Rede, entre outros. Ao centro, o PT e o PDT. À esquerda, apenas a coligação PSOL-PCB e o PSTU.
O fascismo já foi derrotado
outras vezes. Poderá ser novamente.
Quem ganhou, entretanto, foi um inexpressivo partido com uma candidatura fascista, que além de carregar o autoritarismo, o ódio e a intolerância traz no seu bojo uma política econômica pró-imperialismo, rejeitada pela população nas quatro últimas eleições majoritárias, apesar da conciliação posta em prática pelo PT e radicalizada no último Governo Dilma, que, antes mesmo de assumir seu segundo mandato, já adotava a pauta do candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB).
A eleição não foi legítima. A exclusão do ex-presidente Lula, preso sem provas, injustamente, retirou da disputa o favorito em todas as pesquisas, fosse qual fosse o cenário. Além disso, as falsas notícias divulgadas pela candidatura vitoriosa influenciaram decisivamente o resultado. Financiadas ilegalmente por empresários, essas falsas notícias puseram por terra qualquer arremedo de democracia.
Democracia essa, cabe ressaltar, que politicamente não existe nem nunca existiu. A Constituição de 1988 não teve força e/ou vontade política para mudar o jogo burguês das eleições, mantendo os partidos e, pior, as regras político-eleitorais então existentes. Tudo continuou “como dantes no quartel de Abrantes”, com a burguesia no poder.
As conjunturas internacional e nacional eram favoráveis a mudanças. Em quase todo o planeta o capital exerce uma ofensiva sem precedentes, na tentativa de se manter ileso frente a crise econômica que eclodiu em 2008 e persiste, principalmente para os trabalhadores e setores mais frágeis da população.
No âmbito interno, a integração entre o capital internacional e o nacional já é fato há anos, tendo patrocinado o golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016. As eleições deste ano são a tentativa de legitimar e aprofundar o golpe.
Somada à crise do capital vivenciamos uma insatisfação generalizada da população, farta da insegurança, do desemprego, dos baixos salários, da corrupção, de eleger representantes que não os representam. A maioria silenciosa clama por mudanças. Não tem consciência que existem mudanças para melhor e para pior. Optou pela pior.
Como dizia o mestre Darcy Ribeiro “A crise da educação não é uma crise, é um projeto”. Proféticas palavras. É inadmissível culpar o povo brasileiro pelo resultado das urnas. É fechar os olhos para a realidade social, educacional, da mídia etc. Desconhecer a vida de quem sobrevive a duras penas.
Outro fator que colaborou decisivamente para o resultado das urnas foi a política de conciliação de classes do PT enquanto governo. Não realizou as mudanças estruturais que levariam o país a outro patamar. Fechou as portas para a participação popular, adotou a política econômica do capital, aproveitou-se da alta das commodities no mercado internacional para arrotar uma falsa vitória econômica. Deu alguns anéis e preservou os dedos e o corpo todo do capital. Alimentou, cuidou e se aliou ao inimigo. Pediu uma facada nas costas. Obteve algumas.
Cabe ainda a crítica aos setores progressistas que não souberam identificar e corresponder aos anseios de mudança da maioria da população. As passeatas de 2013 foram um prenúncio do que adviria, mas foram incompreendidas.
Da mesma maneira não detectaram o crescimento do fascismo, que já em 2015 colocava as garras de fora. Em novembro daquele ano publicamos um artigo intitulado “Quem choca o ovo da serpente?”, que, entre outras, afirmava: “O fascismo colocou as garras e as presas para fora. A ofensiva da ultradireita se dá em todas as direções, ataca todo e qualquer espaço social. Vários casos recentes ilustram essa realidade: as agressões ao líder do MST, João Pedro Stédile, ao ex-candidato à Presidência da República pelo PCB professor Mauro Iasi, ao ex-senador Eduardo Suplicy, ao racismo contra a atriz Taís Araújo, aos direitos das mulheres, dos índios e dos trabalhadores na Câmara dos Deputados, as agressões contra os movimentos grevistas, em especial os professores, entre tantos outros.”
O pior em parte já começou: mais de 100 pessoas foram agredidas por apoiadores do candidato vencedor, se não me engano três pessoas foram assassinadas, inclusive uma jovem, o ódio, a intolerância, o racismo, a homofobia e a misoginia estão proliferando país afora.
Mas não vai parar por aí. O guru econômico do novo governo é da escola de Chicago, que teoricamente forma economistas, os mais extremistas defensores do neoliberalismo. Se avizinha, agora com força, uma reforma da Previdência nociva aos trabalhadores, o descaso com a educação e a saúde pública, o subemprego, salários ainda menores, privatizações a rodo, o desmatamento e destruição do meio ambiente, a prioridade para a agiotagem através da pseudodívida pública, o realinhamento internacional com os países sede do imperialismo ocidental – EUA, Israel, Arábia Saudita, Inglaterra etc. – em detrimento dos países do Terceiro Mundo e do Brics.
Essas medidas já foram adotadas em outros países, que o digam a Grécia, a Espanha, a Itália, agora a Argentina, entre tantos, que passaram e alguns ainda enfrentam crises sem precedentes. Não deu certo em país nenhum, não será aqui que dará, mas é interesse do imperialismo, portanto prioridade para o fascismo, sua face mais cruel.
Não há possibilidade de o novo governo dar certo – no sentido de promover inclusão e segurança, trazer paz social e preparar as novas gerações para os desafios do presente e do futuro. A concentração de renda atingirá nível ainda mais vergonhoso, com aumentos – absoluto e relativo – seja da miséria, seja da pobreza.
A liberação do porte de armas e a licença para matar dada às polícias, aliada a retórica violenta de eliminação física do diferente e do fustigamento do “inimigo interno”, “os vermelhos”, descortina um cenário de genocídio para o país que hoje já é o campeão mundial no assassinato de jovens, negros, homossexuais, indígenas, lideranças do campo e ativistas dos Direitos Humanos. Um dos países, também, que mais assassina jornalistas.
Por fim, o que se descortina em termos de política educacional não só manterá como reforçará o papel de sermos o país do atraso, da improdutividade, de pessoas relegadas às tarefas menos qualificadas na arena da divisão internacional do trabalho. As gerações futuras serão condicionadas a formar um país que não saberá identificar a rapinagem de suas riquezas e de seu futuro. Um país cego aos desafios da quarta revolução industrial. Um país surdo aos recados da dramática mudança climática. Um país que encaminha suas crianças para um “não-futuro”.
A nós, trabalhadores, resta uma única opção: lutar! Ir às ruas, se organizar, protestar, enfrentar a repressão – que poderá matar a rodo no futuro breve. É o momento de unificar todos aqueles que repudiam aquele que se avizinha como o mais sombrio período de toda a nossa história e construir uma alternativa popular como saída.
Só a organização do povo será capaz de construir um novo país. Não há dúvida de que mais hora menos hora a população perceberá que foi enganada, que seus direitos continuam sendo vilipendiados, ela deixará de apoiar o novo governo, autoritário e excludente.
O fascismo já foi derrotado outras vezes. Poderá ser novamente. Cabe a nós a responsabilidade de enfrentá-lo e colocá-lo em seu devido lugar: o esgoto da história.
Afonso Costa
Jornalista.

*Alusão a uma poesia de Pablo Neruda.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Um Voto Antifascista

Ney Nunes
A última vez que votei num candidato petista, em primeiro turno, foi na eleição presidencial de 2002. Passados dezesseis anos, os motivos para não votar no PT permanecem e, até mesmo, aumentaram. Entre esses motivos, dois se destacam: a política de conluio com interesses empresariais e o  envolvimento nos escândalos de corrupção associados aos demais partidos burgueses. O quê, então, poderia justificar uma mudança nesse posicionamento?

A questão é que hoje estamos sob o risco iminente de uma vitória eleitoral das forças políticas mais reacionárias do país, agrupadas em torno da candidatura do ex-capitão Jair Bolsonaro, um fascista declarado, capacho dos EUA, adepto da tortura de presos políticos e que já afirmou, de viva voz, a intenção de prender e banir do país os brasileiros que fizerem oposição ao seu governo. Além disso, suas propostas são uma ameaça clara ao patrimônio público e ao que resta dos nossos direitos sociais tão duramente conquistados. 

Não restam dúvidas de que esta eleição difere por completo das anteriores. O fascismo está esmurrando nossa porta, votar nulo nesse segundo turno seria como entregar as chaves nas mãos desses assaltantes, facilitando sua entrada. Sem retirarmos nenhuma das nossas críticas aos governos petistas e afirmando que não temos acordo com seu programa de governo, declaramos nosso apoio ao candidato Fernando Haddad. Um voto contra a barbárie fascista!

Ney Nunes