Targino*
Se muitos fatores contribuem e levam o trabalhador brasileiro à
acomodação e à aparente letargia, outros tantos determinam seu
despertar.
O povo nas ruas, em manifestações espalhadas pelo país, além dos muitos motivos, mostra o caminho, o momento, a hora.
O movimento inicialmente localizado em São Paulo e no Rio de Janeiro,
com apenas alguns milhares de manifestantes, protestando contra os
altos preços e a baixa qualidade do transporte público, ora se espalha
por várias cidades brasileiras, em diversos estados, atinge números
agora contados em centenas de milhares e aponta inúmeras razões para o
descontentamento. E, entre tantas, claro, o câncer da corrupção.
Câncer adquirido em herança maldita, que contamina e corroi nossas
instituições, desde a colonização, persistiu e ultrapassou os salões do
império e se desenvolveu e estabilizou nos diferentes momentos da nossa
história republicana, nos mais distintos níveis. Nem mesmo a frustração
da trama do mensalão lhe serve como barreira de contenção. Verdadeiro
polvo, espalha múltiplos tentáculos e sobrevive com naturalidade. Corroi
e priva o povo de ensino, saúde e segurança pública de qualidade.
Priva-o de saneamento básico e de abastecimento regular de água tratada.
Câncer que impõe falta de oportunidade a milhões de brasileiros e os
remete à mais absoluta miséria.
Legítimo, portanto, o movimento denuncia e se opõe aos descasos e
desrespeitos à cidadania. Por conseguinte, recebe apoio dos mais
distintos segmentos sociais. Da classe trabalhadora, naturalmente.
E aí, conscientes da força que advém do coletivo, é hora, bancários, de fazermos coro às vozes que agora rompem o silêncio. Juntemo-nos a elas, aumentemo-lhes a força.
Assim fazendo, o bancário afastado da luta retomará o exercício do
embate coletivo, de cuja prática necessitará dentro da própria
categoria, quando setembro chegar.
Assim, quando setembro chegar, bancários unidos e fortalecidos dirão
aos patrões e aos aliados destes que, doravante, os direitos da
categoria serão respeitados.
Assim, quando setembro chegar, bancários antigos (pré-1998) se
juntarão aos novos e, unidos e fortalecidos, clamando pelo princípio da
isonomia, nos bancos públicos, exigirão do Poder Executivo Brasileiro o
restabelecimento dos direitos que lhes foram subtraídos na era FHC e
tiveram continuidade nos governos Lula e Dilma, que o sucederam. Deram
continuidade gozando de anuência e concordância do setor majoritário do
movimento sindical brasileiro que, nos bancos, é representado pela
Contraf-CUT. Exigirão, portanto, que, assim como a subtração de licença-prêmio, abono assiduidade e adicional por tempo de serviço
se deu por força de atos do Executivo, por meio de Portarias
Ministeriais, também por força de atos de idêntica natureza seja feito o
restabelecimento. Logo, diferente do jogo de cena atualmente praticado
no Legislativo que, em atenção ao Executivo, põe e retira de pauta um
projeto de lei que, sabemos, a não ser por pressão popular, jamais será
votado.
Assim, quando setembro chegar, bancários novos se juntarão aos antigos e, unidos e fortalecidos, exigirão a justa e necessária recuperação das perdas salariais
que remontam, em lastimável memória, aos governos FHC, cujos
percentuais, em alguns casos, giram hoje em torno dos 100% (cem por
cento).
Assim, a partir do exercício de agora, antes mesmo de setembro
chegar, escriturários ou gerentes – trabalhadores, portanto –
simplesmente bancários se reconhecerão e, na busca de resultados que a
todos favoreçam, exigindo condições adequadas de trabalho, não se
submeterão às jornadas excessivas de trabalho nem ao assédio moral.
E, por fim, quando setembro chegar, em assembleias, dirão aos
banqueiros e seus prepostos, ao governo e ao seu escritório de
representação instalado na Contraf-CUT que a farra das negociatas com os
direitos do trabalhador bancário acabou. Os acordos rebaixados agora
são coisas do passado, assim como, também, assinatura de convenção e de
acordos somente depois de negociados e anistiados os dias não
trabalhados por decorrência de greves.
Assim, desperta, trabalhador brasileiro!
Assim, desperta, bancário brasileiro!
(*) – Raimundo Targino Júnior é bancário da Caixa, há 35 anos. Exerce, atualmente, o cargo de Secretário de Finanças e Administração no SEEB-MA.
Fonte:http://www.bancariosrn.com.br/
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