É louvável que as centrais sindicais voltem às ruas com suas reivindicações, ao lado dos partidos políticos tentando retomar a iniciativa perdida desde o primeiro governo Lula.
Sua
pauta de reivindicações centrais sindicais traduz o sentimento da
maioria da população: a falta de dinheiro aliada ao pouco caso do
governo federal e do congresso para com os trabalhadores, tanto ativos
quanto aposentados.
Uma
olhada pouco mais cuidadosa à essa pauta, entretanto, expõe a
contradição entre as reivindicações e a política de um governo que se
diz capitaneado por um suposto Partido dos Trabalhadores. Senão,
vejamos:
A
redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais propiciaria mais
empregos, renda e melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. O
governo e seus aliados jamais encaminhariam tal proposta no congresso,
pois a maioria da base aliada é composta por empresários, que não têm o
mínimo interesse, muito pelo contrário, de reduzir seus lucros. Seriam
necessárias inúmeras isenções fiscais e outros tipos de “incentivos”
para existir a mínima probabilidade de tal proposta ter vida útil.
O
fim do fator previdenciário e a melhoria das aposentadorias também não
têm a menor chance de gorar. O governo e sua base são ferrenhos
defensores do pagamento de uma dívida que não existe, mas ainda que
existisse já teria sido paga inúmeras vezes. Sua aliança principal é com
o capital, seu mentor e principal esteio de sustentação. Impossível
imaginar retirarem recursos públicos de monta para favorecer o público.
O
fim dos leilões do petróleo e a sua nacionalização integral via
Petrobras são improcedentes pelo mesmo argumento. Desde Collor vivemos o
império do neoliberalismo, consubstanciado no Consenso de Washington.
Dilma e o PT – seus aliados então nem pensar – não possuem convicção
política e muito menos ideológica para enfrentar o capital.
Já
a proposta de reforma agrária é um autêntico chover no molhado. O
Brasil é o único país com o capitalismo plenamente desenvolvido que não a
realizou. Desde as capitanias hereditárias somos reféns de meia dúzia
de posseiros que se auto-intitulam produtores rurais. O agronegócio
possui cerca de 200 deputados federais, é a força mais organizada no
congresso, daí não entender como o MST consegue conversar com o PT.
Transporte
público e de qualidade significa ir contra os interesses dos
empresários do setor, hábeis em financiar campanhas eleitorais de
prefeitos, governadores, vereadores e deputados, tanto estaduais quanto
federais. É brincadeira!
A
terceirização é outra proposta sem perspectiva, afinal é preciso
reduzir o ‘custo Brasil’. Os próprios sindicatos, federações,
confederações etc. utilizam os seus serviços, como cobrar aquilo que
eles mesmos não praticam? Poupem-nos!
As
únicas chances, ainda que remotas, de algumas dessas propostas serem
aprovadas recaem sobre os 10% do PIB para a educação e os 10% do
Orçamento Geral da União para a saúde. O primeiro é mais viável pois
existe um projeto em debate no congresso, apesar de uma manobra do
governo federal ter feito ser aprovada no Senado proposta que reduz em
cerca de R$ 200 bilhões os recursos para a educação nos próximos 10
anos.
Os
profissionais da saúde foram mais pragmáticos ao reivindicar 10% do
Orçamento Geral da União, já que é mais fácil mensurá-lo e controlá-lo. A
dificuldade está no governo ceder, uma vez que 48% do mesmo é
direcionado para o capital financeiro, o que lhe deixa pequena margem de
manobra para comprometer esses 10%.
As
contradições entre a pauta de reivindicações das centrais sindicais e a
política do governo e do congresso são nítidas. Será que os
sindicalistas vão se desfiliar dos partidos políticos que sustentam
Dilma e seus aliados para lutar por essa pauta ou vão continuar dando
uma no cravo e outra na ferradura?
Afonso Costa
Jornalista
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