*Por Fatima Lacerda
Aos 97 anos de idade, o líder sindical Bentilho Jorge da Silva faleceu na segunda-feira, 5 de maio, na Engenhoca, em Niterói, onde viveu nos últimos 35 anos, na companhia dos filhos. Eram nove.
Bentilho era ferroviário, militante do PCB, sofreu várias prisões
políticas ao longo da vida. Era correligionário e amigo pessoal de
Carlos Mariguella que chegou a realizar reuniões clandestinas no
Barreto, em Niterói, em sua residência, nos idos 1967.
O líder ferroviário foi preso em 1967, permanecendo mais de um ano no
DOPS, no Rio de Janeiro, onde foi barbaramente torturado. Depois de
libertado, as perseguições continuaram, praticadas pelo “CCC” (Comando
de Caça aos Comunistas). Outras prisões ocorreram na ditadura Vargas,
quando atuava com Luís Carlos Prestes.
Como ferroviário foi dirigente sindical, ao lado de Batistinha, entre
1945 e 1963. Batistinha chegou a ser eleito deputado federal e,
posteriormente, foi cassado e preso. Na época, Bentilho foi um dos
coordenadores da sua campanha, sendo responsável pela redação do
“Manifesto aos Ferroviários”.
O jornal comunista Imprensa Popular, de 11 de novembro de 1954, publica
matéria sobre um atentado contra Bentilho, durante uma greve. A seguir a
reprodução de um trecho da reportagem que atesta a coragem e disposição
desse combatente militante político-sindical:
Tentou por duas vezes matar o velho dirigente
Acabou o agressor batendo em retirada — 16 trabalhadores arbitrariamente transferidos— Restrição ao direito de greve.
O almoxarife-chefe da Oficina da Leopoldina em Niterói, Antônio Leão
Diniz, fêz dois disparos de revólver, ontem de manhã, em pleno local de
trabalho contra o ferroviário Bentilho da Silva, um dos dirigentes
operários da última greve naquela estrada-de-ferro.
Apesar de desarmado, o operário conseguiu agarrar-se com o agressor e
finalmente desarmá-lo. Vendo-se vencido, o almoxarife chefe, que é
conhecido inimigo dos trabalhadores, virou as costas e bateu em
retirada.” - a queixa foi registrada na delegacia de polícia.
Bentilho Jorge da Silva Filho, 55 anos, seguiu os passos do pai, a quem
sempre se referiu com profundo orgulho e respeito. “Fonte” dos dados
relatados, também se tornaria um líder sindical (metalúrgico) e
considera que o grande legado de seu pai, para ele, foi “a consciência
de classe”. Mas também – acrescento - uma grande alegria, amor pela
natureza e a certeza de que, pela mão dos trabalhadores, um dia ainda
será construído um mundo melhor.
Fonte: * É jornalista da Agência Petroleira de Notícias.
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