Bahia 247 - Demitido após ser preso e torturado pela
ditadura militar, o ex-bancário baiano Osmar Ferreira, de 71 anos,
ganhou na Justiça direito de ser readmitido pelo antigo Banco da Bahia.
Decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) acontece exatamente 50
anos depois da demissão, que aconteceu no início do regime militar que
se instaurou com o gole de 1964.
Atualmente advogado, Osmar Ferreira relata em matéria no jornal Folha
de São Paulo os detalhes da manhã de 8 de abril de 1964, quando um
sargento do Exército entrou na agência na qual ele trabalhava, em Feira
de Santana, e lhe tirou lá algemado.
Ferreira era chefe de cobrança do banco e membro ativo do sindicato
local dos bancários que ajudou a fundar com 18 anos. Ligado à juventude
do PCB (Partido Comunista Brasileiro), ele foi levado ao 1º Batalhão da
Polícia Militar de Feira, onde foi torturado por 12 dias.
"Não me colocaram no pau de arara nem levei choque, mas apanhei
bastante". Osmar Ferreira foi reconhecido como anistiado político em
2010 e ganhou direito a R$ 726 mil de indenização, paga hoje em parcelas
mensais.
"Os militares que me prenderam queriam saber onde estavam as armas, mas não tinha arma nenhuma".
Ele conta que foi solto por influência de amigos de seu pai, "que era
de direita", com a condição de se apresentar todos os dias no batalhão,
às 6h e às 18h. Logo que saiu da prisão, foi direto à agência bancária,
onde teve uma surpresa. "Quando cheguei para trabalhar no banco, já
estava demitido".
Em 1969, ao deixar a 'clandestinidade' Osmar Ferreira tentou o ensino
superior. Por seis anos, contudo, suas inscrições nos vestibulares
foram indeferidas – segundo ele, sem justificativa. Depois, se formou em
Direito.
Em abril de 2011, quatro meses após ser anistiado, Ferreira se filiou
novamente ao Sindicato dos Bancários de Feira de Santana. Mesmo tendo
abandonado a profissão, tinha um sonho: ter a demissão anulada pela
Justiça.
Em fevereiro passado, três ministros do TST decidiram que ele deveria
ser readmitido pelo Bradesco, instituição que comprou o Banco da Bahia
em 1973.
Segundo a decisão, ele deve ser recontratado para função
correspondente ao cargo que ocupava há 50 anos, com direito a vantagens
somadas durante o afastamento.
O Bradesco diz que recorreu da decisão e que não comentaria o assunto, por estar "sub judice", conforme publicação da Folha.
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