Dados oficiais revelam que o país caminha a passos largos para o abismo total no campo da economia e do social.
Depois
de longos anos afirmando que o Brasil estava no caminho certo, Guido
Mantega, Ministro da Fazenda, vem se desdobrando para explicar ao povo
que, de fato, o país não estava no caminho que deveria ter seguido. As
importações crescem em ritmo acelerado em prejuízo das exportações e,
pior, em prejuízo do desenvolvimento industrial e agropecuário
independentes. Os governos petistas de Lula e Dilma – símbolos maiores
das esperanças populares – preferiram dar sequência à desnacionalização
da nossa economia, iniciada com a ditadura militar e prosseguida com a
“ditadura” civil de Sarney, Collor de Mello e, sobretudo, do tucano
Fernando Henrique Cardoso.
Entretanto,
há ao menos uma diferença com os governos militares: seus governos
incentivaram as exportações, gerando sempre o superávit na balança
comercial, até porque precisavam dos dólares para pagar os compromissos
com a Dívida Externa. Com isso, deixavam a impressão de que tudo
caminhava bem na área econômica, ao menos pelos 10 primeiros anos dessa
política entreguista. Nos chamados governos civis, optou-se por seguir a
cartilha do “Consenso de Washington” que exige privatização a rodo,
abertura para a entrada do capital internacional até nos serviços
essenciais e substituição progressiva das exportações pelas importações,
favorecendo o comércio das grandes potências econômicas.
Esta
política de importação ganhou força nos governos petistas e coloca o
país na rota da bancarrota ou da entrega total das nossas reservas de
riqueza, inclusive de nossa tão preciosa água potável. Assim vão nossas
terras, nossas jazidas minerais e de petróleo, nossa biodiversidade,
bancos nacionais, portos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem,
tudo porque o país não consegue pagar e não quer promover a tão esperada
ruptura com a agiotagem nacional e internacional, libertando o Brasil
dessa prisão financeiro-econômica criminosa e selvagem.
O
saldo negativo brasileiro na área industrial, por exemplo, somente no
ano de 2013, atingiu a marca incrível de US$ 105 bilhões (acima,
portanto, de 210 bilhões de reais). O que revela ser um dos graves erros
de todos os nossos governantesde apostar quase tudo nos investimentos
externos em nosso país. Cada um deles, dentro de sua mediocridade
política de só olhar a economia em curtos espaços de tempo, revela não
ter competência para pensar e organizar a economia do país com uma
estratégia de médio e longo prazo, que venha gerar nossa real
independência.
Tais
políticos, descomprometidos com o povo, visam apenas resultados
imediatos em favor do seu populismo e do continuísmo político – pois os
resultados em curto prazo iludem a maioria da população que também não
consegue ver “um palmo à frente do seu nariz”. Um dado novo, na linha do
mesmo exemplo, é o rombo na balança comercial industrial que atingiu os
US$570 milhões, apenas nas duas primeiras semanas de 2014. Em qual
abismo iremos parar?
Enquanto
o governo procura “socorrer” a indústria automobilística que reclama
dos seus já monstruosos lucros, favorecendo-a com gordos incentivos
fiscais (que recaem indiretamente nas costas do povo), faz questão de
fechar os olhos para o caos que domina a vida do povo brasileiro. Nem os
militares nem os civis que chegaram ao governo tiveram a dignidade de
corresponder aos desafios a que se propuseram enfrentar, não estavam e
não estão afim de romper com as estruturas geradoras da exclusão,
permanecendo alheios aos sofrimentos do povo que os elegeu.
Enquanto
favorecem construtoras, punem moradores/trabalhadores com a expulsão de
áreas onde moram há décadas, jogando-os literalmente na rua; enquanto
favorecem o agronegócio, os latifundiários e grileiros, viram as costas
para a população ribeirinha, indígena, quilombola, de pequenos
proprietários rurais, todos eles mantidos sob a mira das armas dos
pistoleiros e ou assassinados impunemente; enquanto favorecem empresas
dos vários ramos da indústria com os tais incentivos fiscais, deixam de
aplicar o dinheiro arrecadado do povo nas áreas essenciais da saúde, da
educação, da moradia popular, do transporte coletivo, do saneamento
básico, da reforma agrária.
A
cada dia, o noticiário invade nossos lares revelando o caos que toma
conta de nossas cidades e campo: roubos, assaltos, invasão de
domicílios, assassinatos comuns por questões banais, assassinatos entre
bandidos comuns e bandidos das várias polícias estaduais, execuções,
assassinatos de indígenas e camponeses, crescimento incontrolável do
tráfico de drogas e de pessoas, corrupção que toma conta dos poderes
federais, estaduais e municipais, desemprego que oscila para baixo e
para cima a cada mês numa, verdadeira ciranda da rotatividade da mão de
obra que gera desconforto e insegurança familiar, achata o padrão de
vida do povo mais carente, enquanto aumentam os ataques aos direitos do
povo trabalhador.
É
dentro desse quadro tétrico da vida nacional que dirigentes das
centrais sindicais, revelando seus compromissos escusos com setores da
política nacional corrupta e corruptora, vêm reassumindo publicamente
seus compromissos com partidos e candidaturas ao governo federal e aos
estaduais, deixando de lado seu compromisso popular. Infelizmente já não
causam estranheza as declarações, por exemplo, do presidente da CUT,
Vagner Freitas, dizendo que “estará com Dilma, mas cobrará respostas à classe trabalhadora”, como se Dilma não tivesse dado “bananas” para as centrais e para o conjunto dos trabalhadores!
Não
tendo entre os partidos e entre os potenciais candidatos ninguém
realmente comprometido com o povo brasileiro, sabendo que todos eles
receberão muita grana do capital financeiro, industrial comercial e
agrário, e que esse capital cobrará retorno aos seus investimentos; não
tendo ao lado do povo entidades e organizações populares fortes o
suficiente para exigir mudanças radicais neste país, se torna possível
enxergar que continuaremos, no curto prazo, a caminho do precipício a
que estamos sendo conduzidos por falta visão e de caráter dos políticos e
por desinformação total do nosso povo.
Resta-nos
a esperança de que movimentos populares como o MPL, e outros que venham
surgir, contribuam para o crescimento da consciência política e da
organização independente das novas gerações; que professores conscientes
contribuam para o despertar crítico da juventude; que a Igreja de
Francisco se abra aos apelos que o papa vem fazendo para que entenda os
sinais dos tempos, que acorde do adormecimento em que foi jogada nas
últimas décadas e fortaleça a ação promotora da libertação dos cristãos,
e que estes se unam ao povo batalhador em busca mudanças profundas das
estruturas que vêm gerando a miséria e o caos.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Brasil, um caminho para o abismo. Sem volta?
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