Terminou mais uma campanha salarial dos bancários que, a exemplo das últimas, não foi mais do
que a encenação de um triste espetáculo no qual os bancários participaram de forma muito
tímida. Nós, que deveríamos ser os protagonistas desta peça, deixamos o papel
principal e
passamos a meros figurantes. Desde o inicio, com a pouca participação nos
congressos para discussão da pauta e estratégia da campanha, na pequena
presença nas assembleias de deflagração e de organização do movimento e, por fim, na baixa
adesão ao movimento grevista. A greve, praticamente inexistente nos bancos
privados, foi fraca inclusive nos bancos públicos, com uma grande quantidade de
agências fechadas, mas
com um contingente enorme de funcionários no seu interior, trabalhando.
Governo
Dilma: totalmente alinhado com os banqueiros
O desenrolar da campanha mostrou também a
sintonia fina entre o governo Dilma e os banqueiros. Sempre atenta aos humores
dos senhores da banca, dona Dilma usou o peso dos bancos públicos na mesa única
para ceder o mínimo durante as negociações e derrotar a greve. Quando se trata
de atender aos interesses dos bancos esse governo PT/PMDB age com presteza,
aumentando juros, liberando as tarifas e comprando bancos falidos. Com tudo
isso, ainda existem dirigentes sindicais, especialmente os da CUT, defendendo e
participando de governos como este.
Desorganização e Greve de Pijama
Dos bancários que aderiram ao movimento, a esmagadora
maioria fez greve de "pijama", não se incorporando às atividades da
greve, o que se refletiu nas melancólicas assembleias durante a paralisação, algumas,
acreditem, com no máximo 20 pessoas, incluindo aí diretores do sindicato.
É bem verdade que as direções
sindicais majoritárias dos bancários, capitaneadas pela CONTRAF-CUT, entre elas
a direção do sindicato dos bancários do Rio, fizeram pouco ou quase nada para
estimular a participação dos bancários. A direção do sindicato limitou-se a
fazer o que sempre faz: empurrar a campanha com a "barriga" sem
convocar em momento algum a categoria para discutir a organização da campanha
salarial para, nos últimos momentos, quando vem a famosa proposta rebaixada dos
bancos, decretam uma greve por tempo indeterminado sem a menor organização de
base e, principalmente, sem que tenha sido feita uma discussão consistente nos
locais de trabalho. De todos os mais de 120 diretores do sindicato pouquíssimos
deram as caras nas agências.
Greve terceirizada: bancários ausentes e tranquilidade para os bancos
Este modelo de
"mobilização" ou, melhor dizendo, de desmobilização, tem levado a
categoria a acreditar que a sua luta pode ser terceirizada e que o sindicato é
um prestador de serviços que, entre outras coisas, deve planejar, organizar e
executar uma greve, praticamente
a revelia da categoria. Nesse sentido, os bancários de forma generalizada encaram a campanha
salarial como se não fosse a sua responsabilidade construí-la, desde a pauta
até a greve,
enxergam o movimento grevista como um processo de rotina pelo qual a categoria
passa todos os anos, que segue um "script" determinado com início,
meio e fim, cujo resultado, previsível, será atingido independente da sua
participação na luta. Toda esta cadeia de eventos previsível na qual se
transformaram as greves de bancários tem contribuído e muito para a deseducação
de toda uma geração de bancários que acreditam que poderá haver alguma
conquista sem um enfrentamento real com os bancos.
Uma campanha salarial, controlada
pelas cúpulas sindicais, com piqueteiros terceirizados, escala de
funcionários negociada com os gerentes gerais, negócios sendo realizados a todo vapor na rede de agências e pelas
diretorias, só
interessa mesmo aos banqueiros, que dessa forma, passam tranquilamente por uma
paralisação de muitos dias. Quem fica no prejuízo é a população mais pobre,
expulsa das agências, que fechadas ao grande público se dedicam a bater as
famosas metas.
Resultados
Pífios
O resultado não poderia ter sido
outro. Depois de mais de duas semanas de uma greve com baixíssima participação
da base, sustentada com piqueteiros contratados pelo sindicato e com
assembleias organizativas que, pela quantidade ínfima de bancários, sequer
mereciam o nome de assembleias, tivemos que amargar mais um ano de reajuste
salarial pífio (8%) que mal dá para repor as perdas do último ano e certamente
não será suficiente para garantir o poder de compra até o ano que vem. Isto
diante de um lucro de mais de 30 bilhões (1) dos bancos. Só o Banco
do Brasil lucrou mais de 10 bilhões no último semestre.
Além disso, pouco avançamos no piso salarial, que continua absurdamente rebaixado e nos
torna reféns das comissões. Em nada evoluiu o nosso plano de carreira, que não
garante a incorporação das funções ao longo dos anos, e diante deste quadro de
ampliação das demissões, inclusive em bancos públicos, nada avançamos na
conquista da garantia no emprego.
Trocando em miúdos, o pouco que
conquistamos nesta campanha será pago com juros e correção monetária aos
bancos, que continuarão demitindo em massa, trocando salários maiores por novos
funcionários pior remunerados e promovendo o desmonte de setores internos, como
no caso do Banco do Brasil, o que sobrecarregará ainda mais os bancários.
Lição importante: Aprender ou perecer
Esperamos que esta campanha tenha
servido de lição para todos nós bancários, pois estamos diante de uma crise
capitalista internacional cujas consequências são cada vez mais sentidas no
Brasil e que significará um aprofundamento da exploração dos trabalhadores
brasileiros com mais demissões, ataques aos direitos trabalhistas, e a única
forma de resistirmos a estes ataques e tentarmos avançar é com uma coesa e
determinada luta de todos os trabalhadores.
Não tenhamos ilusões, esta luta não
será travada pelos sindicatos sozinhos. Ela não pode ser terceirizada. Apenas com a nossa participação
efetiva teremos chance de resistir e virar este jogo.
A categoria está diante de um momento
decisivo onde deve optar em permitir que os bancos continuem a lucrar bilhões e
bilhões à custa da nossa saúde física e mental e até mesmo das nossas vidas, ou,
se vai dar um basta, tomar partido da luta e trabalhar pelo fortalecimento da
nossa organização.
Vamos à luta,
bancários e bancárias!!
(1) http://www.feebpr.org.br/lucroban.htm
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