Algumas correntes políticas,
inclusive a ex-presidente Dilma Rousseff, defendem eleições diretas já em face
da crise política, econômica, social, moral e ética que o país vive. Entendem
que seria a única alternativa viável para superá-la, ainda mais tendo um forte
candidato, o ex-presidente Lula.
Independente dos preceitos
constitucionais, o que mais surpreende em tal proposta é a total ausência de
autocrítica por parte do autoproclamado Partido dos Trabalhadores (PT), que apesar
de afastado ilegalmente do governo e derrotado nas urnas nas eleições
municipais de 2016, continua acreditando ser viável um governo, talvez
progressista, aliado com setores da burguesia nacional. Um governo de
conciliação. Não enxerga a luta de classes, muito menos a crise do capitalismo
em nível mundial. Não percebeu e não aprendeu que não existe mais espaço para
concessões paulatinas ao capital, que avança vorazmente sobre todos os direitos
e conquistas dos trabalhadores alcançados em mais de um século de lutas em
nosso país.
Além disso, despreza a
realidade ao desconhecer a aliança, ainda que frágil, entre os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, a fazerem o que preconiza o capital, ou
seja, defender seus interesses acima das leis, da Constituição, de todo e
qualquer critérios ético e social. Não há independência entre os mesmos,
conforme o preceito constitucional, apenas um jogo de interesses cujo único
objetivo é favorecer a burguesia. E, ainda, que o ex-presidente Lula viesse a
vencer a eleição que preconizam, como iria governar com esse congresso e
Judiciário? Iria dar continuidade às barganhas temerosas implantadas por FHC e
mantidas pelo ilegítimo?
Da mesma forma que os
tradicionais atores políticos já têm suas posições definidas, as regras
eleitorais e partidárias são impeditivas de eleições verdadeiramente
democráticas. Os diferentes tempos de televisão, as regras de financiamentos
das campanhas, o uso da máquina governamental e parlamentar por parte daqueles
que estão eleitos ou cujos candidatos sejam seus aliados tornam quaisquer
eleições viciadas, permitindo apenas aos mesmos de sempre obterem resultados
significativos. Não há espaço para o novo, para a verdadeira representação
popular, o debate democrático das idéias, das concepções e das propostas.
Apenas o marketing político.
A eleição de Collor em 1989
foi um caso atípico, facilitada pelo fato da direita não ter um candidato forte
e pela esquerda ter participado dividida no primeiro turno, unindo-se apenas no
segundo, mas tendo pela frente o adversário mais difícil de superar: a mídia
empresarial, em particular a emissora de televisão de maior audiência no país. Foi
o mais grave erro da Constituição de 1988, que pretendeu ser Cidadã em termos
de direitos e conquistas sociais, mas que manteve o status quo político
originário da ditadura empresarial-militar. Cederam os anéis diante de uma
conjuntura desfavorável à época, mas mantiveram os dedos, as mãos, os braços e
tudo mais.
Aguardar as eleições de 2018
e tentar ganhar, com o único candidato viável e opositor ao ilegítimo governo,
o ex-presidente Lula, não significa uma mudança radical, contrária aos
interesses do capital. Isso ele demonstrou em seus oito anos de governo e em
recentes declarações, quando se definiu enquanto um liberal. A falta de
autocrítica do seu partido e de qualquer sinalização de uma guinada à esquerda
demonstram que não é a alternativa que a realidade e o povo brasileiro
necessitam.
Por outro lado, os setores
mais combativos dos movimentos sociais vêm defendendo uma greve geral. Sem
dúvida é uma excelente proposta para enfrentar os ataques desferidos pelo
ilegítimo governo e seus parceiros no congresso e no Judiciário. Entretanto,
uma greve geral demanda organização, mobilização e conscientização, que em grande
parte foram soterradas pelos 13 anos de governos de conciliação de classes.
Existem condições objetivas para uma greve geral, mas é preciso construir as condições
subjetivas para a mesma que, ainda que vitoriosa, não seria o suficiente para
derrotar o governo, mas um importante passo nesse sentido.
A única opção viável e legal,
pois é prevista na Constituição em seu Artigo Primeiro,
parágrafo único, é o povo exercer diretamente o poder. Não mais concedê-lo a
pseudo representantes, que na verdade apenas defendem os interesses do capital.
Alguns governantes são mais conciliadores, outros mais agressivos, mas todos,
ao longo da nossa história, tiveram o capital enquanto sua prioridade. A
corrupção dos políticos, hoje tão alardeada, é consequência direta dessa
submissão, que rouba nossas riquezas, maximiza a exploração da classe trabalhadora
e agride os direitos sociais do nosso povo.
Construir esse poder popular
passa pelas lutas cotidianas dos trabalhadores e movimentos sociais, pela sua
mobilização, organização e conscientização. É o desafio que temos para superar
o caos em que foi jogado nosso país e nossas vidas. O resto é pretender
ressuscitar um pacto com Mefistófeles, desta feita sem chance de enganá-lo.
Afonso Costa
Jornalista
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