PCB-RR

domingo, 24 de maio de 2015

A lição da pátria educadora: que venham os chineses.

Os professores das universidades federais entram em greve no próximo dia 28 na maior parte do país. Muitas universidades estaduais públicas também paralisam nesta semana. Professores do ensino fundamental e médio estão de braços cruzados em várias locais do país. Baixos salários, não pagamento de trabalhadores terceirizados, falta de recursos para itens básicos como giz e papel higiênico, entre outros, permeiam o quadro da educação brasileira, mais uma vez atingida pelo ajuste fiscal do governo Dilma, copiado por estados e municípios de todos os partidos com representação no congresso.

Apesar dos problemas com o FIES, o financiamento governamental aos donos das escolas particulares vai bem, obrigado. Que o digam as ações da multinacional Kroton-Anhanguera, em alta na bolsa de valores. Somente ano passado, R$ 13 bilhões foram doados para as escolas particulares pelo governo federal. Ao ponto de uma universidade, em São Bernardo do Campo, ter apenas quatro estudantes pagando mensalidades normalmente. A própria escola orienta aos alunos ingressarem no FIES. Assim os recursos são garantidos.

Esses recursos fazem falta para a educação pública, mas ao invés de ampliar suas instalações, contratar mais professores e funcionários e fortalecer as universidades públicas, os governos, tanto Lula quanto Dilma, preferiram financiar as escolas particulares. É opção de classe, não do ensino básico, médio ou universitário, mas social.

A situação é tão caótica que até a CUT, central sindical chapa branca, está puxando mobilizações para o próximo dia 29, quando completa um mês o ‘Massacre de Curitiba’, promovido pelo governador do PSDB, Beto Richa, contra os professores paranaenses. Fora Richa!

Enquanto isso, 11 senadores, inclusive dois do PT, se reuniram para buscar alternativas aos projetos de lei contra os trabalhadores e a Previdência, encaminhados pela presidente Dilma. Mesmo não atacando o ponto nevrálgico da falta de recursos – o pagamento de mais de um trilhão de reais para os rentistas somente este ano – já é alguma coisa, mas da qual não se pode esperar muito.

Da mesma maneira, não deixa de ser positivo o governo ter aumentado a taxação sobre os lucros dos bancos, ainda que timidamente. A voz das ruas e da esquerda (pequena, ressalte-se) da base da aliança governamental desta vez foi ouvida, apesar de estar muito aquém do necessário.

Nesse caminho, é emblemático o ex-governador do RS, Tarso Genro, propor uma Frente de Esquerda, mas que mantenha uma ‘conciliação recíproca’ com o capital. Alguns dos poucos militantes petistas que resistem a embarcar na aristocracia operária deram ouvidos ao também ex-ministro, o mesmo que se recusou a pagar o piso nacional aos professores do RS quando era governador. Frente de Esquerda com o capital é uma contradição por si só. E ainda há que diga que ele é um intelectual.

Para completar o quadro de um mês de maio tumultuado, o governo e sua base comemoram os investimentos e promessas de investimentos feitos pelo governo e empresários chineses. Saúdam a possível inversão de 50 bilhões de dólares, parte em infraestrutura, justamente aquela que seus quase 12,5 anos de governo se recusou a fazer. Sim, dizem eles, agora vamos avançar, afinal é muito melhor dever para os capitalistas chineses do que para os estadunidenses ou europeus. A dívida pública agradece.

Nesse quadro, a inflação aumentou, os salários continuam arrochados, perdendo cada vez mais a queda de braço com os preços, a Caixa cortou em grande parte o financiamento habitacional, os juros continuam na estratosfera, o desemprego oficial atingiu o maior índice em décadas - o oficial, porque o real deve estar beirando a estratosfera -, a Câmara aprovou construir um shopping center ao custo de R$ 1 bilhão, o PIB deve cair 1,2% este ano e a direita empedernida continua sua campanha pela redução da maioridade penal. Viva o Thor Batista.

Além da educação, a saúde e o desenvolvimento social também foram atingidos pelo ajuste fiscal num total de 54,9% do corte orçamentário, cuja única finalidade é pagar em dia os rentistas. O discurso de que o ajuste é necessário para atrair investimentos estrangeiros não cola. Basta dar uma olhada no balanço de pagamentos, na saída de dólares especulativos e na remessa de lucros.

A pátria educadora da burguesia não tem Educação.

Afonso Costa
Jornalista

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