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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Brasil perdeu

Os dados são claros e deixam uma mensagem: há uma maioria política conservadora a ditar os rumos do país, existe uma maioria esmagadora da população sem consciência de classe e de qual é seu real caminho para superar suas dificuldades e transformar o Brasil.
 
As duas candidaturas representaram duas faces de uma mesma moeda, com pequenas filigranas e diferenciá-los: Aécio propôs o esvaziamento dos bancos públicos, a volta do estreitamento de relações com os Estados Unidos e a ampliação das privatizações, do pouco que ainda resta de público, particularmente do Pré-Sal, menina dos olhos de Obama.
 
Em seu primeiro discurso como reeleita, Dilma também não disse nada de novo: defendeu uma reforma política que não reforma nada e propôs manter as políticas sociais até então implementadas, aquelas de dar poucos anéis para manter os dedos, braços e corpo nas mãos das transnacionais.
 
O mais preocupante em seu discurso, ainda bem que o ouvi antes de jantar, foi a defesa da manutenção da parceria com o agronegócio e com o setor financeiro. Merece o novo congresso que ganhou.
 
Não curiosamente ambos defenderam o diálogo, afinal “Mé e Bebé” têm que conversar. São farinha do mesmo saco. Tanto isso é verdade, que ganhasse quem ganhasse o ano que se avizinha é preocupante, pois ambos ainda rezam a cartilha neoliberal do FMI. Com o déficit público e a inflação elevados, o crescimento econômico pífio, a imensa concentração de capital e a queda do consumo interno, tudo indica que 2015 será sujeito a arrocho salarial, dinheiro escasso e trovoadas. A chuva, só São Pedro sabe.
 
O preocupante da campanha e ao mesmo tempo alentador, foi que a direita raivosa voltou a ocupar acintosamente o cenário político. A radicalização de parte dos eleitores de Aécio deixa claro que o monstro da “tradição, família e propriedade” continua bem vivo, disposto ao que for preciso para retomar o poder.
 
Um coronelzinho de São Paulo chegou a sugerir colocar um muro separando os eleitores do Nordeste, Rio de Janeiro e Minas; do Sul, Noroeste e Centro-Oeste, em alusão aos votos em cada candidato. O desalento dos comentaristas e apresentadores do principal canal de televisão do país foi hilário. Alguns pseudo intelectuais – um conservador não pode ser efetivamente um intelectual – apresentaram as explicações mais estapafúrdias para justificar o resultado das urnas.
 
O preconceito contra a aristocracia operária se manifestou claramente na mídia empresarial. Assim como a velha aristocracia tinha preconceito com a nascente burguesia, a velha burguesia tem preconceito com a aristocracia operária, por mais que ambos tenham a mesma política ideológica em comum.
 
Enquanto isso, o povo comemorou em algumas ruas, chorou em outras, assistiu a um espetáculo ao qual é convidado a participar quando é necessário dar uma roupagem de democracia à ditadura do capital.
 
A vontade de mudanças das manifestações de 2013 se perdeu em meio às falsas promessas dos candidatos, já que tudo continuará como antes. Mas nem tudo está perdido, pois a lição que ficou foi aprendida e em breve o povo brasileiro retornará às ruas. Não há alternativa.
 
 
Afonso Costa
Jornalista

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