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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O RISO E O CHORO PELOS MENSALEIROS

Estamos assistindo a um apaixonado debate sobre a prisão dos mensaleiros. Os que condenam as prisões alegam tratar-se de presos políticos e que há vários corruptos, de outros partidos, impunes e, por isso, a pena é injusta. Os que se regozijam, afirmam que são ladrões, que têm que pagar pelos crimes.


Não quero cair nesse maniqueísmo, em questão tão profunda. Deve-se examinar como o PT chegou a essa situação. É preciso uma análise fria, calcada em fatos.  Não criar bode expiatório, nem cair em ufanismo.


Devo declarar que convivi estreitamente com o PT quando eu era dirigente da CUT. Conheci as entranhas desse Partido, cuja atuação no governo venho combatendo com convicção. Mas, nessa hora, não se pode jogar água no moinho da direita e, por isso, não me alinho aos que se regozijam com as prisões. Como acho sem fundamento a choradeira; parece desespero.


Não me alegra a situação dos presos, não só devido ao imenso prejuízo para as esquerdas, mas também porque a degradação de quem quer que seja não é motivo de regozijo. Não me alinho aos chorões porque sei que a denúncia do Sr. Roberto Jeferson tem fundamento, como reconheceu o então Presidente beneficiário, ao pedir desculpas ao povo, em cadeia nacional de televisão. Essa confissão é grande nutriente para a tese “Domínio dos Fatos”. E mais: José Dirceu, devido à sua participação, teve o mandato de Deputado cassado pela Câmara dos Deputados, apesar de o governo dispor de maioria na Casa. 


As ressalvas anos depois apresentadas, não anulam o valor desses dois fatos.

É óbvio que a grande mídia tira proveito, ao tempo em que esconde os escândalos dos grupos que lhe são afins, mesmo com provas contundentes. Porém, se os escândalos são maiores ou menores, não importa. Roubo é roubo. E gatuno tem que ser punido. É preciso denunciar os outros.


Não se justifica, porém, a forma autoritária das prisões. É violência colocar em cárcere fechado quem foi condenado em regime semiaberto. E o prisioneiro doente deveria ter tratamento adequado. Tratamento que deve ser também para o outro doente, o Roberto Jeferson.


Mas não é válido o argumento de que há vários corruptos em liberdade e, por isso, os do PT não podem ser presos. Temos é que exigir julgamento para os gatunos do PSDB, do PDT, do PR, do PMDB etc. Não é porque os pastores de igrejas mercantilistas escorcham impunemente o povo, que os políticos também podem fazê-lo. A existência de governos corruptos não justifica que outro também o seja. O grande escândalo na prefeitura paulista, a compra de votos para prorrogar o mandato de FHC etc. não autorizam nem justificam a  desonestidade de outros. Atos ilícitos, de qualquer um, devem ser punidos.


Para mim, é mais importante examinar se a atual situação do PT é fruto do trabalho da direita ou se é por causa dos erros do próprio partido. 


É cristalino que houve uma metamorfose ideológica no partido. Um dos pecados capitais do PT é não abrir a caixa preta de FHC. Quantas patifarias viram à tona. Mas, quem tem telhado de vidro... Não fez a prometida auditoria da privatização da Vale do Rio Doce. Muito menos a da escandalosa dívida pública. E governa igualzinho ao PSDB-DEM-PPS, com indecentes coalizões. Lula acovardou-se ao não levar adiante o projeto de regulamentação das mídias, do ex-ministro Franklin Martins. E quanto ao que seria “Comissão da Verdade e da Justiça”, exigida em mais de cem fóruns e seminários em todo o país, aceitou as pressões da direita e retirou o “da Justiça”.


São trágicas as semelhanças dos governos petistas com os dos tucanos: submissão total ao sistema financeiro, às empreiteiras e ao agronegócio. Em meu blog (ronaldbarata.blogspot.com), cito muitos exemplos.


Que dizer das privatizações dos aeroportos e rodovias! E das transferências de nossos recursos naturais, como o preciosíssimo nióbio? E o enfraquecimento da Petrobras, de Itaipu e da Chesf.  E a entrega à iniciativa privada do maior campo petrolífero do mundo, o de Libra, além dos que já entregou do pós sal.


Ademais, conforme declarou Lula, nunca os banqueiros ganharam tanto dinheiro como no governo dele. Se o sistema financeiro e todo o grande capital  está contemplado, plenamente satisfeito, por que haveria um golpe? O papel carbono atende perfeitamente, tanto quanto o original. A política econômica tem como pilares o câmbio flutuante, as metas de inflação e o superávit primário, receita do FMI implantada por FHC e continuada por Lula e Dilma.


Os governos petistas poderiam ter aprofundado a democracia; fortalecido os movimentos sociais, principalmente o sindical; democratizado os meios de comunicação. Preferiram silenciar pela cooptação, conjugado com a aliança com o capital, e ceder migalhas aos pobres. É, literalmente, a receita norte-americana que Lula aprendeu quando fez curso no IADESIL, escola de sindicalismo da CIOLS, criada pela AFL-CIO (braço sindical da CIA). A CUT está filiada à CIOLS- Central Internacional das Organizações Sindicais Livres.
O BNDES recebeu do Tesouro, em quatro anos, cerca de R$ 400 bilhões, que emprestou a empreiteiras, bancos e agronegócio a 5,5 e 6% e que o Tesouro captara a juros de 15%,17%, 13%; E mais o que entregou aos eikes batistas.


Rotular como presos políticos é bazófia. O partido no poder é o dos apenados. O Tribunal que os condenou tem folgada maioria de juízes indicados pelos presidentes petistas. No Congresso Nacional, o governo goza de larga maioria. As Forças Armadas, felizmente, estão recolhidas. Repito: Mais que qualquer discurso dos juízes, para mim, vale a confissão de Lula em rede nacional de TV e a cassação de José Dirceu. 

           
Encerro com uma declaração do petista que participou da elaboração do plano estratégico do primeiro governo Lula e ex diretor da Petrobras, Ildo Sauer, corroborada pelo ex diretor do BNDES no governo Lula, Carlos Lessa: O patrimônio público está sendo entregue aos grupos econômicos, sem contrapartida e compromisso... Infelizmente, não temos um governo com visão estratégica, e nem projeto de país, a fim de buscar uma base de ampliação dos benefícios sociais, a criação de autonomia, o fim das assimetrias”.

         Em 20 de novembro de  2013                 RONALD SANTOS BARATA







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