Estava de recesso, descansando até o
próximo dia 5, quando retomo o trabalho. Infelizmente, a presidente Dilma e seu
ministro-chefe não deixaram continuar de folga. Tomaram uma atitude corajosa e
resolveram corrigir distorções históricas da Previdência Social, como o
seguro-desemprego, o auxílio-doença, as pensões e até arrolaram os pescadores
artesanais, devidamente enquadrados.
Como publicou este MM, o corte de
direitos correspondente a R$ 25 bilhões anuais, cerca de 25% do superávit
primário de 2015. Os pobres coitados dos agiotas nacionais e internacionais
agradecem.
O pacote de final do ano não se
restringe à presidente. A conta de luz aumentou, as mensalidades escolares
também, os preços das passagens de ônibus nem se fala, e até o salário mínimo
mudou, mas foi só corrigido, afinal R$ 3,58 por hora trabalhada é o limite que
as empresas e os governos podem pagar. A Constituição? Ora, dane-se a
Constituição.
É a primeira medida de impacto do ministro das transnacionais indicado
pela presidente, que sequer assumiu. Imaginem quando ele estiver à frente da
pasta. Podem ter certeza, outras medidas contrárias ao povo vêm por aí.
O PMDB, bom malandro, não quer
assumir a relatoria do projeto na Câmara. Propõe que um deputado do outrora
Partido dos Trabalhadores o faça e arque com as conseqüências. Nada mais justo.
A chamada oposição – que só se opõe a
quem ocupa a cadeira no Palácio do Planalto – já manifestou sua discordância
com o corte de direitos. Possivelmente proporá atacar ainda mais os dependentes
da Previdência, apesar do discurso de pretender defendê-los. É pura
mise-en-scène para inglês ver. Os dois são farinha do mesmo saco.
O cenário ainda se compõe com texto
de um articulista de um jornal do Rio de Janeiro, que especula sobre uma
possível depressão da presidente, que andaria chorando pelos cantos. O
contraponto veio de bate-pronto: uma foto de Dilma Rousseff sorrindo em
uma praia no Nordeste. Afinal, foi lá que ela teve a maior votação proporcional
no segundo turno.
Dá pena e pasmeira saber que muitos
trabalhadores honestos, militantes históricos, outrora defensores do povo e da
democracia fazem coro à presidente e seu partido. Estarão em pé vendo sua
posse, vestidos de camisetas vermelhas estampadas com a foto de Dilma de
óculos, do tempo que era revolucionária. A mesma utilizada na reta final do
segundo turno quando, desesperada, usou sua antiga imagem para sensibilizar
setores da esquerda e vencer a eleição.
O pobre do William Wallace se remexe
nas inúmeras imagens que o saúdam como herói escocês, enquanto nós, aqui,
também nos remexemos, indignados com tanta subserviência ao capital.
Se Dilma viu Braveheart possivelmente
não gostou.
Afonso Costa
Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário