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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Bancário demitido e preso após golpe de 1964 é readmitido depois de 59 anos.

Um idoso de 80 anos foi readmitido em um banco na cidade de Feira de Santana, na Bahia, 59 anos depois de perder o emprego após ser preso pela Ditatura Militar. Osmar Ferreira, que era ligado à juventude do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi demitido sob a “acusação” de ser comunista.

Osmar era um jovem funcionário de uma agência do Banco da Bahia. Com uma metralhadora nas mãos, um sargento do Exército entrou na agência.

Ferreira foi recontratado pelo banco Bradesco, que comprou o setor de varejo do antigo banco na década de 1970 e acabou herdando os passivos da empresa. A readmissão ocorreu por meio de uma ordem judicial. A decisão pôs fim a uma batalha judicial que durava 12 anos entre Osmar e o Bradesco.

No dia 26 de abril, Osmar se apresentou para voltar a trabalhar no banco. À Folha de S.Paulo, o idoso disse ter ficado surpreso com a demissão.

“A demissão foi uma surpresa porque eu trabalhava muito e gostava do que fazia. Cortaram pela cabeça uma carreira de sucesso. Eu ia ser muito bem-sucedido no banco”, afirmou.

Osmar ainda era estudante quando começou a trabalhar no banco, aos 17 anos. Aos poucos, ascendeu a hierarquia interna da agência até chegar ao posto de chefe do setor de cobranças. Também foi gerente interino em treinamento para assumir a função em uma nova unidade.

Ao mesmo tempo, mantinha uma militância política fora do trabalho: foi líder estudantil, associou-se ao então clandestino PCB e ajudou a fundar a primeira entidade de classe de bancários de Feira de Santana. A associação virou sindicato em 1963 e Osmar passou a fazer parte da diretoria.

“A dor e o sofrimento permanecem até hoje. As bofetadas, os telefones [fortes tapas nos ouvidos que provocavam surdez temporária], a tortura de um modo geral, inclusive a psicológica, não vão se apagar nunca. Isso vai morrer comigo”, relembrou.

Sem perspectiva e com medo de ser novamente preso, passou a trabalhar como caminhoneiro com o pai e colocou o pé na estrada, ficando na clandestinidade por quatro anos.

Em 1974, Osmar conseguiu entrar na universidade e cursou a faculdade de Direito com o auxílio de um crédito estudantil. Foi advogado por cerca de 40 anos e trocou o interior da Bahia pela capital.

Em 2010, foi reconhecido pela Comissão de Anistia como perseguido político da ditadura militar e recebeu uma indenização de R$ 726 mil, paga na época em parcelas mensais.

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