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quinta-feira, 5 de maio de 2011

A história de dois militares

O capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, conhecido como Sérgio Macaco pela sua destreza na selva, em 1968 recusou-se a explodir um gasômetro na Avenida Brasil que acarretaria na morte de 100 mil pessoas. A ordem fora dada pelo então brigadeiro João Paulo Burnier, conhecido assassino e torturador acusado das mortes de Stuart Angel Jones e do deputado Rubens Paiva, entre outros. Sérgio foi reformado, cassado pelo AI-5 e pelo Ato Complementar 19. Jamais pediu anistia, pois afirmava que “Não posso ser anistiado pelo crime que evitei”. Faleceu em 1994 como herói, mas abandonado pelo “governo democrático” do presidente Itamar Franco, que só o promoveu a brigadeiro três dias após a sua morte, apesar de sentença favorável do Supremo Tribunal Federal.
O capitão Wilson Luiz Chaves Machado é conhecido por ter participado da tentativa de atentado no Riocentro em 30 de abril de 1981. O sargento Guilherme Pereira do Rosário que estava no carro com ele faleceu com a detonação antes da hora da bomba destinada a matar milhares de jovens que participavam de um show em homenagem ao dia do Trabalhador. O capitão sobreviveu apesar de também atingido pelo artefato e atualmente é coronel da reserva do Exército brasileiro e prestador de serviços para o Instituto Militar de Engenharia (IME) com proventos de R$ 3,3 mil reais por mês, que somados aos seus ganhos de oficial da reserva lhe proporcionam uma renda mensal superior a R$ 13 mil. É um “bon vivant” que mora num belo apartamento de classe média alta e gosta de jogar vôlei.
As diferenças entre as atitudes dos dois oficiais e dos resultados demonstram quem o Exército e o governo brasileiros privilegiam em suas ações práticas. Demonstram ainda que muitas feridas continuam abertas e tem que ser definitivamente fechadas.
No dia 27 de agosto de 1980 duas cartas-bombas atingiram a luta pela democracia em nosso País. Uma estourou na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e matou D. Lyda Monteiro, secretária do presidente da instituição, a quem o artefato era dirigido. Outra bomba mutilou o Sr. José Ribamar de Freitas, tio e assessor do então vereador Antônio Carlos de Carvalho, o verdadeiro alvo dos terroristas. Tonico, como era conhecido o parlamentar, era incansável lutador pela democracia e pelo socialismo. Foi barbaramente torturado, tendo “inaugurado” nos porões da ditadura o famigerado pau-de-arara. Nunca abriu a boca ou denunciou seus companheiros. Repetia incansavelmente apenas o seu nome e o número da sua carteira de identidade. Resistiu!
Os atentados dos anos 80 começaram por bancas de jornais e se espalharam em uma ignóbil tentativa dos órgãos de repressão de refrear o movimento popular que não aguentava mais a ditadura militar e bradava por liberdades democráticas. Assim como esses atentados outras mortes, torturas e barbaridades indignas de seres humanos foram praticadas por um regime ditatorial que rasgou a Constituição brasileira e deu um golpe militar, capitaneado pelas elites com apoio logístico dos Estados Unidos e da nefasta CIA.
A série de matérias publicadas pelo jornal O Globo sobre a tentativa de atentado do Riocentro, inclusive com nomes da caderneta de telefone do sargento Guilherme, demonstram que a impunidade aos órgãos repressivos, seus mandantes e agentes continua a prevalecer. Até mesmo o ministro da Justiça Nelson Jobim, que tenta criar a Comissão Nacional da Verdade a mando da presidente Dilma, afirmou categoricamente que não pretende justiçar os homens que rasgaram a Constituição e instalaram um regime de terror no Brasil. Disse textualmente que não haverá punições para os responsáveis com base na lei da Anistia, criada em 1979, portanto ainda durante a ditadura militar. A influência daqueles que detiveram o poder durante os 21 anos de barbárie que o País sofreu ainda é tanta que o Supremo Tribunal Federal entendeu em 2009 que essa lei também beneficia assassinos e torturadores, quando na verdade deve apesar reconhecer o mal que foi esse período e os males que provocou em milhares de famílias, de patriotas, de pessoas que deram suas vidas pela liberdade.
A Suprema Corte da Argentina já puniu generais responsáveis por torturas e mortes durante a ditadura militar naquele país. São acusados de crime de lesa-humanidade, tais quais os nazistas foram no julgamento de Nuremberg. O Senado uruguaio aprovou no dia 13 de abril deste ano o fim da lei da anistia, o que abre caminho para o julgamento dos militares também acusados de crimes de lesa-humanidade.
Recentemente o alto comando militar brasileiro publicou documento contra a revisão da anistia e a criação da Comissão Nacional da Verdade. E por quê? Por que teme a verdade, teme que sejam punidos aqueles que se voltaram contra a humanidade em nosso país. E eles ainda tem força para isso?
Abaixo a ditadura!
Afonso Costa
Jornalista e colaborador do Avante Bancário


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