PCB-RR

sábado, 23 de setembro de 2023

LULA ENTRE AS PALAVRAS E OS ATOS

*Gerardo Santiago

Há que se dizer que Lula fez um belo discurso na Assembleia Geral da ONU. Atacou o neoliberalismo de forma certeira: “seu legado é uma massa de deserdados e excluídos” e “em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema-direita”, quer dizer, o fascismo. 

Falou da crise ambiental e da urgência de tomar medidas a respeito, diante dos eventos climáticos cada vez mais extremos e ameaçadores. Condenou o embargo ilegal contra Cuba. Defendeu Julian Assange. Denunciou a desigualdade de gênero, a discriminação contra as pessoas LGBT+ e o racismo. Mostrou os problemas e as contradições da própria ONU. Depois de quatro anos de Bolsonaro evacuando pela boca e envergonhando o Brasil daquela mesma tribuna, o contraste sem dúvida foi notável e positivo. 

Por outro lado, se está correto o axioma de que “a prática é o único critério da verdade”, e digo que está, há que se apontar a distância entre o discurso de Lula na ONU e o que seu governo vem praticando. 

O arcabouço fiscal, a proposta de “reforma tributária”, privatizar presídios, ampliar a imunidade tributária das empresas da fé, manter a política de exonerações fiscais em favor de grandes empresas, nada disso é combater o neoliberalismo, muito pelo contrário, é praticá-lo. Explorar petróleo na foz do Rio Amazonas tampouco seria agir para conter a crise ambiental, a agravaria. 

E quanto a Assange, oferecer asilo político a ele seria um gesto coerente com o discurso, oferta que poderia ser extensiva a Edward Snowden, corrigindo o erro de Dilma em negá-lo. 

É preciso dar consequência prática ao que se diz, isso se chama coerência. Não se combate o neoliberalismo, parteiro do fascismo, do colapso ecológico e da desigualdade extrema, com políticas neoliberais.

*Gerardo Santiago é Advogado, Aposentado do BB, Ex-Diretor do Seeb/Rio e Militante do PCB-RR.

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