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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A estratégia e a tática do golpe

Afonso Costa 

A estratégia do capitão reformado e dos seus cúmplices é manter a Presidência e tomar o poder, fazendo do Judiciário e Legislativo meros coadjuvantes. O povo? O povo é apenas o povo, não tem importância, serve apenas para gerar mais-valia e aplaudir suas barbaridades.

Assim, o capitão reformado, arbitrariamente feito presidente, atua com quatro objetivos táticos concomitantes: barrar qualquer tentativa de impeachment; acabar com as investigações contra seus filhos e aliados acusados de corrupção; coesionar seus apoiadores em torno de um projeto golpista que já está em andamento; e preparar as bases para o clímax do golpe, que seria efetivado através do não reconhecimento da iminente derrota eleitoral – caso não seja possível dar o golpe antes, o que é cada vez mais improvável.

Em queda nas pesquisas de opinião, responsável direto pela morte de quase 600 mil pessoas e 21 milhões de infectados pela Covid-19 (até agora), pelo desemprego recorde, fome e miséria que assolam o país, além da entrega das empresas públicas e recursos naturais para o capital, seu governo é um fiasco.

Os únicos beneficiados são o capital e os marginais que o apoiam e implementam sua “política”, devastando a natureza, matando e intimidando os povos originários, trabalhadores rurais e das comunidades carentes, extinguindo direitos trabalhistas, dando de mão beijada para a burguesia as empresas públicas, os parques nacionais, os recursos financeiros etc.

Por trás deste cenário existe uma verdade inquestionável: ele sabe que cometeu e comete crimes, que é passível de prisão. Daí sua fala no dia 7 de setembro, no qual reuniu seus apoiadores, quando afirmou só sair do governo “Preso, morto ou com vitória… Nunca serei preso”. As contradições entre sair x vitória e (só saio) preso x nunca serei preso saltam aos olhos.

O atual governo foi e é patrocinado pelos militares, que ocupam cargos de alto escalão no próprio governo e nas empresas estatais, além de benesses incompatíveis nos quartéis – somente para os oficiais, claro. Não é a primeira vez que os militares atendem aos interesses da burguesia em detrimento do país, do povo, do juramento que fizeram. A história que o diga.

Mas quem está por trás é a burguesia, desde o impeachment forjado contra a ex-presidente Dilma, até a posse de Temer e a eleição fraudulenta que levou o capitão reformado à Presidência. Diante da crise do capital que já dura anos, o interesse é maximizar os ganhos através da dívida pública, abocanhar as empresas estatais estratégicas, apropriar-se dos recursos naturais, com destaque para o pré-sal e os minérios, além das reservas naturais pertencentes aos povos originários e à preservação ambiental. Afora o aumento da mais-valia, porto de partida de todas as iniciativas da burguesia através dos tempos.

Ainda que através do ministro banqueiro a burguesia esteja conseguindo alcançar seus objetivos, com fortes prejuízos para o país, essa mesma burguesia está insatisfeita e temerosa dos arroubos autoritários do atual presidente e já começa a abandonar o barco, vide documento da Fiesp e o apoio da Febranan, com a óbvia exceção do BB e da Caixa. Até o Senado rejeitou outra nova reforma trabalhista proposta pelo governo.

Não é do seu interesse uma crise institucional que ponha em risco tudo que conseguiu desde 2016. Afinal, os exemplos da Argentina, Chile, Peru e principalmente da Bolívia, afora a resistência da Venezuela, mostram que a América do Sul redobrou os esforços para livrar-se do julgo do imperialismo.

O crescente retorno das manifestações populares é outro fator determinante para esse recuo tático da burguesia. Mais vale preservar os braços do que perder a cabeça. Seu objetivo é continuar sendo o verdadeiro poder do país.

Diante disso, resta à verdadeira oposição redobrar as manifestações de rua, a organização dos trabalhadores e população em geral na busca de uma alternativa realmente popular de governo. Só assim nos veremos livres do jugo imperialista e dos ditadores de plantão.

Não é o momento de quaisquer recuos táticos, o genocida está acuado e isolado, recuar agora é dar o espaço político que ele precisa para tentar reverter sua situação. Se toda vez que houver possibilidade de enfrentamento as forças populares recuarem, não se vai a lugar nenhum, a vitória do fascismo é certa.

Depois, depois o café esfria, a cerveja fica quente. A hora é agora!

 

Afonso Costa é jornalista.

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