A primeira frase é da deputada
Andrea Fará, do PP, partido continuista do nefasto franquismo, quando da votação
no congresso espanhol do pacote que cortou 65 bilhões de euros em gastos
governamentais. A segunda frase é mais famosa, da rainha Maria Antonieta, na
França pré-revolucionária no século XVIII, que acabou decapitada. As duas
expressam o desdém da elite para com os povos de ontem e de hoje.
A troika composta pelo Banco
Central Europeu, FMI e União Européia através do Eurogrupo – reunião de 17
ministros da Fazenda da zona do Euro - impôs um pacote a Espanha com corte de 65
bilhões de euros em gastos governamentais. Tudo isso para receber um empréstimo
de 35 bilhões de euros, a grande maioria destinada a salvar os bancos. Grande
negócio!
Por isso o povo espanhol tem ido
às ruas em manifestações cada vez maiores, reunindo centenas de milhares de
pessoas. Uma cena curiosa nesses atos foi um cartaz com a frase “Que se jodam,
pero mira cómo roban” em clara alusão a frase da deputada. Sorte dela que na
Espanha não tem guilhotina.
Outra expressão utilizada e que
sintetiza o sentimento de revolta do povo espanhol é bem clara: “Menos para os
políticos e os banqueiros, mais para os povos”. Uma referência ao fato do
governo conservador de Mariano Rajoy, um espécie de FHC de lá, ter entregue os
rumos da economia a Bruxelas – o comando da zona do euro – e do fato de
existirem 400 mil políticos no país, todos muito bem com a vida,
obrigado.
A contrapartida a esse
“empréstimo” são perdas salariais aos funcionários públicos, a elevação de
impostos, a restrição e diminuição do auxílio-desemprego, o aumento do
desemprego, que já ultrapassa 25% da População Economicamente Ativa (PEA) e
atinge sobretudo os jovens, dos quais cerca de 50% estão sem
trabalho.
A Espanha é a quarta maior
economia da União Européia e por isso somente este ano mais de 200 bilhões de
euros saíram do país. O capital viu a crise chegar, crescer e fugiu para praças
com maior rentabilidade e segurança.
A crise econômica hoje atinge
duramente Grécia, Espanha, Portugal, França e Itália. Iniciada nos Estados
Unidos em 2008 com o colapso do sistema imobiliário, a débâcle rapidamente sumiu
das grandes empresas, principalmente nos EUA: os lucros das suas corporações é o
maior desde a década de 50, se comparado com o Produto Interno Bruto. Tudo isso
graças às medidas preconizadas pelos banqueiros, os grandes responsáveis por
tudo que está acontecendo. Que o digam os dirigentes do Goldman Sachs, banco
estadunidense que conseguiu plantar vários dos seus homens de confiança em
postos chaves em governos europeus. Não por coincidência a grande maioria
em crise. E
ainda há uma pseudo jornalista econômica que utilizava e utiliza as análises
desse banco para seus comentários. Ignorância ou maldade?
A dívida dos países ricos alcançou no ano
passado US$ 42 trilhões, correspondentes a 61% do Produto Interno Bruto global
em valores de 2011. Em 2007, antes da crise, a dívida dos países ricos era de
US$ 26 trilhões e correspondia a 47% do PIB global. Acredita-se, entretanto, que
o capital especulativo em todo o mundo gire em torno de algumas centenas de
trilhões de dólares – há quem fale em até 600 trilhões. É muita especulação para
pouca produção, mais hora menos hora a falta de lastro iria se fazer sentir,
como o está fazendo desde 2008.
Chegaram os ventos
europeus
Aqui as coisas também não andam
boas. As exportações caíram, o número de trabalhadores com carteira assinada
teve um decréscimo de 25% no primeiro semestre, a indústria tem seu pior
desempenho em muitos anos, as grandes empresas estão com dificuldades para pagar
suas dívidas junto aos bancos, a arrecadação do governo federal caiu em junho
como há muito não se via, a previsão de crescimento do PIB para este ano reduziu
para 2%, e pode diminuir ainda mais.
O governo tem adotado medidas
para enfrentar a situação, mas elas não têm surtido o efeito desejado. Os juros
estão em 8% - a menor taxa de muitos anos – foram feitas várias isenções fiscais
para a indústria a título de incentivo para a produção e o consumo, recentemente
foi encaminhado um pacote que libera R$ 20 bilhões para a iniciativa privada, o
dólar está em um patamar elevado para estimular as exportações, entre outras
ações. Todas elas infrutíferas.
O que segura e prende nosso
crescimento e uma maior distribuição de renda tem a mesma origem da crise
europeia: o alto pagamento feito aos rentistas. Este ano 47% do Orçamento da
União é para pagamento e amortização das dívidas externa e interna. É mais de um
trilhão de reais, que deveriam estar sendo investidos no desenvolvimento, mas
estão apenas engordando as já obesas contas dos banqueiros.
Nas páginas deste MM previ, em
2004, a
crise econômica que atinge grande parte do centro da economia capitalista.
Agora, infelizmente, sou obrigado a reafirmar que não há luz no fim do túnel. Se
não houver um redirecionamento dessa política, e nada indica que haverá, o
Brasil pode entrar em uma séria crise de proporções inimagináveis, ao nível da
presente na Europa. Será que vamos ter que ver para crer?
Afonso
Costa é Jornalista e escreve para o Monitor Mercantil
8353-3713
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