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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

CAMPANHA SALARIAL 2018: CRÔNICA DE UM “EMPATE” ANUNCIADO

Foto: Contraf      
 
Todos os bancários já sabiam desde o princípio que esse ano as negociações com os banqueiros seriam duríssimas e dificílimas, como realmente acabaram sendo. Até sexta-feira passada, o quadro era o seguinte, conforme já alertamos em material anterior da Unidade Classista:

“Nos bancos públicos, as Resoluções da CGPAR (“Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União”, uma comissão de controle das estatais) de números 22 e 23 limitam drasticamente a participação das estatais no custeio de planos de saúde: aumentam o percentual de Foto:Contrafparticipação dos empregados e proíbem as estatais de oferecer cobertura aos novos empregados e aos futuros aposentados. Até esse momento, nem os banqueiros privados nem os bancos públicos garantiram em mesa de negociação a continuidade das cláusulas históricas de nossos acordos passados.”

                Na maratona de negociações de final de semana, os banqueiros privados e os bancos públicos aceitaram renovar praticamente todas as cláusulas de nossos acordos anteriores e concederam um modestíssimo ganho real de 1,2% acima da inflação.
                Entretanto, a Unidade Classista não compartilha do discurso triunfalista que a maioria da Diretoria do nosso Sindicato está apregoando. Avaliamos que as propostas de acordo apresentadas têm graves insuficiências:
- não nos garante contra as reestruturações nos bancos públicos e contra as demissões em privados;
- não avança em direção a um plano de carreira, que garantiria a incorporação paulatina das comissões e a incorporação da produtividade para os demais;
- não avança em relação à elevação do piso da categoria;
- mais uma vez se fecha acordo com validade de 2 anos, o que achamos muito complicado, ainda mais nessa situação: ninguém sabe o que será do país ano que vem nem qual será o tamanho da inflação, pra já topar antecipado apenas 1% acima da inflação.
                Porém, para decidirmos pela aceitação ou rejeição dessa proposta não basta olhar o que tem e o que deixou de ter: precisamos avaliar a conjuntura e a nossa organização e mobilização - aí é que está o grande problema. E, pra explicarmos porque nós da Unidade Classista entendemos que temos problemas de organização e de mobilização, é necessário fazer uma pequena retrospectiva histórica.

AS CAMPANHAS SALARIAIS DE 2005 A 2016
                A verdade nua e crua é que de 2005 a 2015 o movimento sindical bancário viveu um script predeterminado:
- os banqueiros e o governo faziam uma "proposta final" bem ruim;
- as assembleias (cada ano mais esvaziadas) decretavam greve;
- os sindicatos do RJ e SP contratavam piquete terceirizado pra sustentar uma greve cada vez mais de fachada; (Uma ressalva importante: nós da Unidade Classista sempre fomos contra contratar piqueteiro, inclusive defendemos essa posição publicamente em assembleia!)
- depois de alguns dias de greve de teatro a Contraf pedia ajuda ao Lula, ao Guido Mantega e alhures pra "amaciar" os banqueiros;
- vinha a "proposta final verdadeira" e a greve terminava;
-  fechado o acordo depois da greve teatrinho, as demissões nos bancos privados e as reestruturações e terceirizações nos bancos públicos continuavam.
                Dois erros gravíssimos nesse script montado e repetido ano após ano até 2015:
1º) o sindicato e a Contraf/CUT viraram “amiguinhos do governo do PT”, perdendo completamente a independência – nós defendemos um sindicalismo classista, independente de partidos, patrões e governo;
2º) os bancários foram afastados da construção e organização da sua própria luta – a greve foi “terceirizada” pro piquete contratado. Isso deseducou politicamente a categoria, que passou a pensar que “o Sindicato faz a greve e a gente apoia olhando”.
                Na Caixa ainda teve greve com participação de base até 2008 (ano da famosa "PLR Robin Hood"); depois ficou cada vez mais "greve de férias” e as contingências cada vez mais lotadas.
                A partir de 2016, com o golpe do impeachment, o PT foi expelido do governo e o script enguiçou, porque não tinha mais PT no governo pra ajudar a destravar a negociação com a Fenaban (por isso a greve de 2016 durou tanto).

A CAMPANHA NESTE ANO
                Em 2018 com a reforma trabalhista e o fim do imposto sindical, acrescido da redução ainda maior do tamanho da categoria bancária (demissões nos privados e PDVs nos públicos) a receita financeira dos sindicatos caiu drasticamente e não tem mais piquete terceirizado.
                Então o Comando Nacional da Contraf/CUT foi negociar esse ano numa situação três vezes mais difícil:
- não havia nenhuma mobilização no Banco do Brasil e em privados (a assembleia que rejeitou a primeira proposta da mesa unificada de negociação tinha mais de 300 bancários – 180 da Caixa e 120 de todos os outros bancos juntos, incluindo os diretores do Sindicato;
- a mobilização na Caixa – o único banco que ainda fez greve com organização de base em 2016 – era fundamentalmente em repúdio aos ataques ao plano de saúde, retirada de cláusulas históricas e o não pagamento da PLR Social;
- tudo isso no primeiro ano que negociávamos na vigência da Deforma Trabalhista, com o fim da ultratividade ((ultratividade é exatamente a prorrogação da validade das cláusulas do acordo anterior até o fechamento de novo acordo), ou seja, os banqueiros chantagearam a categoria o tempo todo na mesa ameaçando com retirada total das cláusulas históricas.
                Exatamente por conta dessas ameaças, os Encontros Nacionais da categoria tiraram por unanimidade e consenso o lema da campanha desse ano como NENHUM DIREITO A MENOS.
                Ora, isso significa que “nosso time” já “entrou em campo” “jogando pra empatar”, ou seja: pela lema da campanha – e o que conversamos com muitos bancários esse era também o sentimento da base da categoria – esse ano o mais importante é não perder.
                E aí, se analisarmos com calma e tranquilidade as propostas finais que serão avaliadas na assembleia de hoje quarta-feira 28/08, concluímos que “deu empate”:
- no BB e nos privados mantém praticamente todas as cláusulas do acordo anterior (e nos privados ainda se avançou ao conquistar o parcelamento da devolução do adiantamento de férias, que os companheiros de privados até agora não tinham);
- na Caixa, a proposta preserva até 2021 o plano de saúde para os atuais empregados, para os atuais aposentados e pra quem vier a se aposentar - e aí, em 2020 tem outra negociação; e antes disso temos que construir um movimento unitário dos empregados das estatais pra derrubar as Resoluções da CGPAR e garantir o direito ao plano de saúde para os futuros admitidos nas mesmas condições dos empregados de hoje. Além disso, na Caixa mantém a PLR Social e praticamente todos abonos de falta.
                Aí a pergunta é: mas isso não é pouco? Não devíamos brigar para conquistar mais?
                A resposta é: sempre é pouco, sempre queremos e poderíamos ter conseguido mais - mas pra chegar lá precisávamos ter mais organização e mais mobilização do que construímos até agora.
                Pra começar, achamos que a Direção do Sindicato – da qual fazemos parte como minoria e fração pública – não teve uma política adequada para incorporar realmente os bancários na preparação da luta e de uma possível greve. Como já alertávamos em nosso material anterior, “nossa campanha salarial este ano não pode ser “igual àquelas que passaram”. Não podemos achar que “o Sindicato faz a campanha e a gente olha”. Necessitamos de uma campanha salarial com milhares de bancários participando das assembleias, definindo os rumos da luta, afirmando quais são nossas reivindicações prioritárias, fazendogreve de verdade”.
                Mas infelizmente não foi isso que ocorreu:  só tivemos 2 assembleias até agora (uma pra aprovar a minuta – numa segunda-feira – e outra que rejeitou a primeira proposta dos patrões); não houve plenárias por região, reuniões de mobilização, mais assembleias, nenhum fórum que agregasse a participação da base na construção da luta. Nós da Unidade Classista propusemos na Diretoria do Sindicato assembleia na semana do dia 20 e na semana passada, mas a maioria do Direção decidiu aguardar as orientações do Comando.
                E assim fica difícil construir mobilização para uma greve forte. Falando francamente, mobilização em privados há mais de 10 anos que não existe nenhuma e, como já dissemos, os sindicatos sem recursos financeiros por conta da deforma trabalhista não têm mais recursos pra contratar piqueteiroNo BB o quadro de mobilização também enfrenta enormes dificuldades – na greve de 2016 a adesão dos companheiros do BB já foi abaixo de 50% do funcionalismo; e na Caixa, o que estava indignando a categoria (aumento do Saúde Caixa, não continuidade do plano de saúde pros aposentados e exclusão de cláusula históricas) foi retirado de pauta pela Empresa.
                Assim, diante do quadro de mobilização existente, das ameaças de retirada de direitos e do “empate” que se obteve na negociação, a Unidade Classista entende e propõe que a categoria aprove a proposta de acordo apresentada pelos patrões.


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