PCB-RR

domingo, 28 de junho de 2015

Um passo à frente, dois passos atrás

A eleição de Lula em 2002, saudada como uma vitória da esquerda no Brasil e em nível internacional, mostrou-se um retumbante fracasso, com consequente retrocesso político, ideológico e social, ainda não totalmente mensurável.

A ofensiva do capital desde a queda da União Soviética tem sido crescente, aguçada pela crise econômica iniciada em 2008, que lhe permitiu ampliar ainda mais seus tentáculos, particularmente com o crescimento da financeirização internacional da economia e a chantagem das chamadas dívidas.

Sem dúvida esse processo corroborou para a guinada à direita dos governos Lula e Dilma, mas não foi o único motivo que os moveu. A busca por aquilo que chamam de governabilidade – nada mais do que a manutenção do poder e de todas as benesses que o mesmo propicia – foi decisiva para essa opção, como agora, indiretamente, já admite o próprio ex-presidente Lula.

Iniciativas como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, pequena recuperação do salário mínimo, entre outras, têm duas vertentes básicas: dar os anéis para preservar os dedos, enquanto amplia sua base eleitoral, concomitante com benefícios para o capital, uma vez que atribui ao governo custos que seriam desse mesmo capital. Uma jogada de mestre.

Só que as consequências dessa política suplantaram as expectativas do núcleo governamental e da aristocracia operária como um todo, que não previram a ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade, muito menos sua total incapacidade de responder ao isolamento que se seguiu e, por hora, se mantém.

A mais nefasta consequência dessa política foi o esvaziamento dos movimentos sociais, particularmente dos trabalhadores, atualmente sujeitos a direções pelegas comprometidas com o governo, submissas ao capital. Isso tirou força da própria aristocracia operária e abalou a esquerda como um todo, ainda mais com a atuação da mídia que, diante dessas facilidades, manipula a consciência popular em prol dos interesses das classes dominantes.

O jogo político atualmente é de ataque contra defesa, com o árbitro totalmente a favor da ofensiva do capital.

A tentativa desesperada do governo de adotar literalmente a pauta conservadora no campo econômico se mostrou um tiro pela culatra, fortalecendo ainda mais Cunha, Renan, o agronegócio, as bancadas fisiológicas e setores mais conservadores, seja no congresso, seja na sociedade em geral.

A reaproximação com os Estados Unidos, consubstanciada pela visita próxima da presidente àquele país, é uma manifestação clara e grosseira dessa política governista, distanciada dos avanços populares alcançados em vários países do mundo, cada vez mais em direção contrária, em acelerado processo de distanciamento e isolamento do império.

O desespero dos setores governistas é tamanho que eles não se entendem mais. Há os que propugnam uma frente democrática e popular, os que defendem uma frente de esquerda aliada ao capital e outros a propugnar uma verdadeira frente de esquerda - esses são os minoritários.

Desse imbróglio ressurge o presidente Lula, com seu incontestável carisma e capacidade de mobilização. Já não tem, entretanto, o apoio incondicional da classe trabalhadora, menos ainda bandeiras de lutas para sensibilizar a população. Ele e seus aliados rasgaram-nas todas.

Obviamente que a ofensiva do capital e dos setores conservadores encontra resistência. Dialeticamente, os trabalhadores têm se manifestado e ido à luta em inúmeras categorias, com destaque para os professores em todos os níveis da educação. Salve a greve das universidades federais e parabéns aos professores de São Paulo e Paraná, entre outros.

É quase impossível prever a retomada do protagonismo dos movimentos sociais, entretanto, é conhecida a força dos trabalhadores, a dedicação das verdadeiras forças de esquerda e as mudanças em curso na conjuntura internacional, particularmente a mudança de pólo hegemônico, que podem propiciar a virada do jogo. A história nos dá exemplos disso.

Afonso Costa
Jornalista

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