Avante Bancário
sábado, 23 de novembro de 2013
Assembleia do BB em 2013 no Rio de Janeiro
Este Blog é de responsabilidade do coletivo de bancários do PCB-RR no Rio de Janeiro.
Ligações Perigosas: BB, Votorantim e Eike Batista.
O banquinho falido
da família Ermírio de Moraes, salvo pelo BB através da generosa compra de suas
ações, não para de reservar surpresas e das boas. Se não bastasse a sucessão de
prejuízos, R$ 1,56 bilhão em 2012 e neste ano, até setembro, o resultado
negativo já alcançou R$ 633 milhões, agora essa performance vai ser turbinada
pelo calote do “empresário do ano”, o popular Eike Batista.
O Votorantim
garantiu através de fiança um empréstimo de R$ 570 milhões feito pela OSX junto
ao BNDES, como a empresa entrou em recuperação judicial (concordata) e não
honrou o compromisso, o banco foi obrigado a pagar. Agora o Votorantin é credor
do Eike.
Com esta
“surpresinha”, o balanço do banco Votorantim vai ficar ainda mais vermelho, enquanto
isso, os gestores do BB, responsáveis pela aquisição de 49% das ações desse
banco, continuam onde sempre estiveram e nem ao menos ficam vermelhos de
vergonha. Com a palavra o TCU, o MPU e etc. e tal.
UC Bancários Rio
UC Bancários Rio
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terça-feira, 19 de novembro de 2013
Greve de 2013: De protagonistas a figurantes!
Terminou mais uma campanha salarial dos bancários que, a exemplo das últimas, não foi mais do
que a encenação de um triste espetáculo no qual os bancários participaram de forma muito
tímida. Nós, que deveríamos ser os protagonistas desta peça, deixamos o papel
principal e
passamos a meros figurantes. Desde o inicio, com a pouca participação nos
congressos para discussão da pauta e estratégia da campanha, na pequena
presença nas assembleias de deflagração e de organização do movimento e, por fim, na baixa
adesão ao movimento grevista. A greve, praticamente inexistente nos bancos
privados, foi fraca inclusive nos bancos públicos, com uma grande quantidade de
agências fechadas, mas
com um contingente enorme de funcionários no seu interior, trabalhando.
Governo
Dilma: totalmente alinhado com os banqueiros
O desenrolar da campanha mostrou também a
sintonia fina entre o governo Dilma e os banqueiros. Sempre atenta aos humores
dos senhores da banca, dona Dilma usou o peso dos bancos públicos na mesa única
para ceder o mínimo durante as negociações e derrotar a greve. Quando se trata
de atender aos interesses dos bancos esse governo PT/PMDB age com presteza,
aumentando juros, liberando as tarifas e comprando bancos falidos. Com tudo
isso, ainda existem dirigentes sindicais, especialmente os da CUT, defendendo e
participando de governos como este.
Desorganização e Greve de Pijama
Dos bancários que aderiram ao movimento, a esmagadora
maioria fez greve de "pijama", não se incorporando às atividades da
greve, o que se refletiu nas melancólicas assembleias durante a paralisação, algumas,
acreditem, com no máximo 20 pessoas, incluindo aí diretores do sindicato.
É bem verdade que as direções
sindicais majoritárias dos bancários, capitaneadas pela CONTRAF-CUT, entre elas
a direção do sindicato dos bancários do Rio, fizeram pouco ou quase nada para
estimular a participação dos bancários. A direção do sindicato limitou-se a
fazer o que sempre faz: empurrar a campanha com a "barriga" sem
convocar em momento algum a categoria para discutir a organização da campanha
salarial para, nos últimos momentos, quando vem a famosa proposta rebaixada dos
bancos, decretam uma greve por tempo indeterminado sem a menor organização de
base e, principalmente, sem que tenha sido feita uma discussão consistente nos
locais de trabalho. De todos os mais de 120 diretores do sindicato pouquíssimos
deram as caras nas agências.
Greve terceirizada: bancários ausentes e tranquilidade para os bancos
Este modelo de
"mobilização" ou, melhor dizendo, de desmobilização, tem levado a
categoria a acreditar que a sua luta pode ser terceirizada e que o sindicato é
um prestador de serviços que, entre outras coisas, deve planejar, organizar e
executar uma greve, praticamente
a revelia da categoria. Nesse sentido, os bancários de forma generalizada encaram a campanha
salarial como se não fosse a sua responsabilidade construí-la, desde a pauta
até a greve,
enxergam o movimento grevista como um processo de rotina pelo qual a categoria
passa todos os anos, que segue um "script" determinado com início,
meio e fim, cujo resultado, previsível, será atingido independente da sua
participação na luta. Toda esta cadeia de eventos previsível na qual se
transformaram as greves de bancários tem contribuído e muito para a deseducação
de toda uma geração de bancários que acreditam que poderá haver alguma
conquista sem um enfrentamento real com os bancos.
Uma campanha salarial, controlada
pelas cúpulas sindicais, com piqueteiros terceirizados, escala de
funcionários negociada com os gerentes gerais, negócios sendo realizados a todo vapor na rede de agências e pelas
diretorias, só
interessa mesmo aos banqueiros, que dessa forma, passam tranquilamente por uma
paralisação de muitos dias. Quem fica no prejuízo é a população mais pobre,
expulsa das agências, que fechadas ao grande público se dedicam a bater as
famosas metas.
Resultados
Pífios
O resultado não poderia ter sido
outro. Depois de mais de duas semanas de uma greve com baixíssima participação
da base, sustentada com piqueteiros contratados pelo sindicato e com
assembleias organizativas que, pela quantidade ínfima de bancários, sequer
mereciam o nome de assembleias, tivemos que amargar mais um ano de reajuste
salarial pífio (8%) que mal dá para repor as perdas do último ano e certamente
não será suficiente para garantir o poder de compra até o ano que vem. Isto
diante de um lucro de mais de 30 bilhões (1) dos bancos. Só o Banco
do Brasil lucrou mais de 10 bilhões no último semestre.
Além disso, pouco avançamos no piso salarial, que continua absurdamente rebaixado e nos
torna reféns das comissões. Em nada evoluiu o nosso plano de carreira, que não
garante a incorporação das funções ao longo dos anos, e diante deste quadro de
ampliação das demissões, inclusive em bancos públicos, nada avançamos na
conquista da garantia no emprego.
Trocando em miúdos, o pouco que
conquistamos nesta campanha será pago com juros e correção monetária aos
bancos, que continuarão demitindo em massa, trocando salários maiores por novos
funcionários pior remunerados e promovendo o desmonte de setores internos, como
no caso do Banco do Brasil, o que sobrecarregará ainda mais os bancários.
Lição importante: Aprender ou perecer
Esperamos que esta campanha tenha
servido de lição para todos nós bancários, pois estamos diante de uma crise
capitalista internacional cujas consequências são cada vez mais sentidas no
Brasil e que significará um aprofundamento da exploração dos trabalhadores
brasileiros com mais demissões, ataques aos direitos trabalhistas, e a única
forma de resistirmos a estes ataques e tentarmos avançar é com uma coesa e
determinada luta de todos os trabalhadores.
Não tenhamos ilusões, esta luta não
será travada pelos sindicatos sozinhos. Ela não pode ser terceirizada. Apenas com a nossa participação
efetiva teremos chance de resistir e virar este jogo.
A categoria está diante de um momento
decisivo onde deve optar em permitir que os bancos continuem a lucrar bilhões e
bilhões à custa da nossa saúde física e mental e até mesmo das nossas vidas, ou,
se vai dar um basta, tomar partido da luta e trabalhar pelo fortalecimento da
nossa organização.
Vamos à luta,
bancários e bancárias!!
(1) http://www.feebpr.org.br/lucroban.htm
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PROJETO QUE LIBERA TERCEIRIZAÇÃO ATACA DIREITOS TRABALHISTAS
O projeto de Lei 4.330 de 2004, do deputado Sandro Mabel (PMDB), trata
do processo de regulamentação da terceirização e permite ampliar essa forma de
contratação para todas as atividades empresariais, tanto no setor privado
quanto no público. Esse projeto é na
verdade uma maneira sorrateira de fazer uma reforma trabalhista, um golpe
aplicado na CLT brasileira.
A terceirização é uma estratégia adotada pelas empresas para aumentar o
lucro. Como isso acontece? Na terceirização as empresas contratam serviços de
terceiros para quebrar o vinculo empregatício direto com o empregador, as
empresas contratadas pagam salários baixos, utilizam jornadas exaustivas e não
investem em melhoria nas condições de
trabalho. A grande maioria das empresas terceiras desrespeita os direitos
trabalhistas, algumas abrem falência ou fecham do dia para a noite e não pagam
as verbas rescisórias aos trabalhadores.
O PL 4.330 tem um conteúdo polêmico, libera a terceirização sem limites, inclusive na
atividade principal da empresa, seja ela privada ou pública e acaba com a
responsabilidade solidária, na qual a contratante arca com as dívidas
trabalhistas não pagas pela terceirizada. O texto não faz referência a isonomia
em relação a direitos e salários, admitindo que o trabalhador terceirizado,
mesmo executando as mesmas atividades de um trabalhador efetivo, não tenha
garantia dos mesmos direitos.
Outro ponto polêmico do projeto é a legalização da terceirização no
setor público. O governo manteve uma política de terceirização agressiva,
terceirizando setores na educação, saúde, bancos, petróleo. Por trás desse mar
de terceirização, se esconde interesses eleitorais, as empresas financiam
campanhas partidárias para que no futuro possam ser contratadas como terceiras,
quanto mais terceirização, mais verbas para campanhas. Além da imoralidade, a
terceirização viola a norma do ingresso por concurso público e diminui as vagas
nos concursos.
O PL 4330 propõem na verdade uma reforma trabalhista, algo muito sério
que deveria ser amplamente divulgado e discutido pela população brasileira, mas
Infelizmente, o projeto tem o apoio dos empresários, inclusive dos meios de
comunicação, por isso não existe interesse de
divulgação pela mídia. Deputados
e senadores são, na sua grande maioria, ligados e financiados pelo capital,
isso faz com que o projeto tenha grande chance de acabar aprovado.
Com a mobilização unitária do movimento sindical o projeto está parado
na Câmara dos Deputados, mas a pressão patronal continua e no Senado foi
retomado o PL 87, de autoria do senador Eduardo Azeredo (PSDB), com o mesmo
teor do PL 4330. Essa ameaça aos direitos trabalhistas poderia ser liquidada se
a base de apoio ao governo Dilma se dispusesse a votar contra esses projetos.
Mas como sabemos, a presidente está mais interessada em entregar o nosso
petróleo e continuar privatizando o que restou das empresas estatais.
Portanto, nós, bancários e demais categorias profissionais, precisamos
intensificar a luta, organizando uma grande jornada de manifestações e greves
contra esse PL 4330 e sua cópia, o PL 87, que, se aprovados, vão significar o
fim da possibilidade de um emprego descente para a maioria dos trabalhadores
brasileiros.
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ITAÚ, BRADESCO E SANTANDER, CAMPEÕES DO LUCRO E DAS DEMISSÕES, ATÉ QUANDO?
Os
balanços apresentados pelos grandes bancos privados em 2013 não deixam qualquer
dúvida, o setor bancário continua dominando em termos de lucratividade a
economia brasileira. Mas, enquanto os banqueiros comemoram, os bancários desses
bancos amargam um cotidiano de pressão violenta pela produtividade, combinada
com o terror das demissões.
O Santander até setembro de 2013 cortou
3.414 postos de trabalho, nos últimos doze meses a redução é ainda maior,
4.542, ou 8,2% do total de empregados. No Bradesco, com o baita lucro de nove
bilhões de reais nos três primeiros trimestres de 2013, houve a extinção de
1.975 vagas nesses primeiros nove meses do ano. Nessa corrida contra o emprego
o Itaú não podia ficar para trás, nos últimos trinta meses eliminou 16.582
empregos diretos. Os bancários do Itaú sabem muito bem o que isso significou:
mais sobrecarga de trabalho, ou seja, mais exploração, o que gerou onze bilhões
de lucro até setembro/2013, 5,8% superior ao mesmo período de 2012.
O quadro acima reforça a necessidade dos
bancários saírem da passividade e buscarem na força da sua organização o remédio
contra tanta exploração. Se o modelo de sindicalismo cutista não serve para
enfrentar os banqueiros e sua sede de lucros, cabe a nós bancários darmos os
primeiros passos para corrigir os rumos do nosso Sindicato. Sabemos das
dificuldades para nos organizarmos, a repressão e o terror das demissões são
inimigos poderosos, mas não são invencíveis.
Não podemos esperar a próxima campanha
salarial, a luta contra as demissões deve começar de imediato. Não faz sentido
chegarmos ao final de mais uma campanha sem um acordo de garantia no emprego.
Nas agências e regiões de concentração bancária, precisamos conversar com os
colegas para darmos os primeiros passos. Para avançarmos vai ser necessário
construir grupos e comitês de base, protegidos dos dedos duros, que permitam a
participação ativa dos bancários, sem a qual, nenhuma luta terá perspectiva de
êxito
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terça-feira, 12 de novembro de 2013
A Revolução que Não se Apaga
O sete de novembro ficou marcado na História. Não pelo feito de algum
general, não pela decisão de um governante, não por algum decreto ou
tratado oficial. A marca foi deixada de forma indelével pelo movimento
firme e consciente de uma maioria de operários e camponeses, de enormes
contingentes de explorados e oprimidos, em direção a sua libertação e da
construção de uma nova sociedade, objetivando a superação da exploração
e do egoísmo como regra, para edificar a organização socialista
fundamentada na solidariedade e na cooperação coletiva.
Nem mesmo o retrocesso ao capitalismo, com a desintegração da União
Soviética, pôde apagar o monumental avanço que representou a Revolução
de 1917 na Russia, que em poucos anos, graças aos esforços de
proletários e camponeses, organizados pela economia planificada,
transformou um país atrasado e semifeudal em uma potência mundial.
Além disso, o alcance internacional da Revolução, se revelou no ânimo
e na organização dos trabalhadores em todo o mundo. O exemplo soviético
frutificou e municiou de esperanças milhões de seres humanos, até então
esmagados e humilhados pelo sistema capitalista. Graças a isso, mesmo
nos países sob a órbita do Capital, foram arrancadas muitas conquistas
sociais, que atualmente os governantes a serviço da burguesia e do
imperialismo fazem de tudo para retirar.
Passados 93 anos, quando a continuidade do capitalismo se mostra como
ameaça concreta até mesmo à sobrevivência da humanidade, nos ameaçando
com um futuro de predomínio da barbárie, podemos dizer que o projeto da
gloriosa Revolução Soviética mantém sua atualidade e nos serve como
referência. Já os descaminhos que levaram a restauração capitalista nos
forneceram boas lições, entre elas, a de que a Revolução é uma
construção permanente, e que seu objetivo estratégico, é internacional.
Ney Nunes (militante do PCB-RJ)
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segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Risco de volta da direita?
"O que traria a volta da direita?", pergunta Ivo Lesbaupin.
"Privatizações? Leilões do petróleo? de áreas do pré-sal? Avanço do
agronegócio? Usinas hidrelétricas na Amazônia? Perda de direitos dos
povos indígenas? Tropas militares para enfrentá-los? Código Florestal?
Plantio de transgênicos? Aumento do uso de agrotóxicos? A não realização
da reforma agrária?" E ele responde: "Tudo isso está sendo feito por
este governo".
Segundo o professor da UFRJ, "existe uma direita mais à direita que
este governo, sem dúvida. Que é possível piorar, é sempre possível. Mas
que este governo está montado para atender aos interesses dos grandes
grupos econômicos, também não há dúvida".
Ivo Lesbaupin
é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. É mestre
em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro - IUPERJ - e doutor em Sociologia pela Université de
Toulouse-Le-Mirail, França. É coordenador da ONG Iser Assessoria, do Rio
de Janeiro, e membro da direção da Abong. É autor e organizador de
diversos livros, entre os quais O Desmonte da nação: balanço do governo FHC (1999); O Desmonte da nação em dados (com Adhemar Mineiro, 2002); Uma análise do Governo Lula (2003-2010): de como servir aos ricos sem deixar de atender aos pobres (2010).
Eis o artigo.
A privatização do megacampo petrolífero de Libra
(área de pré-sal) é um divisor de águas. Todos os movimentos sociais do
Brasil, inclusive alguns muito próximos ao governo, se posicionaram
contra. O governo se manteve inflexível e, copiando o governo FHC nas grandes privatizações (Vale, Telebrás), garantiu o leilão com segurança policial e tropas militares, de um lado, e batalhões de advogados da Advocacia Geral da União para derrubar liminares, de outro.
O governo deixou claro de que lado está.
Muitas das análises sobre os governos do PT (Lula-Dilma) partem do pressuposto de que houve antes um governo de direita, neoliberal, o de FHC, e que hoje temos um governo se não de esquerda, ao menos de centro-esquerda, de coalizão.
Seria um governo em disputa, que ora tomaria medidas mais voltadas
para os setores populares ora voltadas para os setores dominantes. Isto
dependeria da maior ou menor pressão de cada um dos lados.
Este pressuposto leva a crer que este governo mereça todo o nosso
apoio para evitar a "volta da direita". Porque esta volta traria
políticas que não queremos ver novamente.
Os governos do PT indubitavelmente deram mais atenção ao social que
os governos anteriores, como o aumento real do salário-mínimo e o
programa Bolsa-Família, e reduziram fortemente o
desemprego. A política externa é mais independente e também solidária
com os governos progressistas de outros países da América Latina. E
poderíamos citar uma lista de avanços ocorridos nos últimos dez anos,
avanços que devem ser mantidos e devemos apoiar.
Há setores do governo que têm uma preocupação centrada na sociedade,
nos trabalhadores, que se dedicam a uma maior democratização. Mas,
infelizmente, estes setores não mandam no governo. E, na hora da
cobrança, apoiam as grandes decisões (Belo Monte, Libra...).
Porém, se examinarmos mais de perto, o que nos impressiona não são as
diferenças com os governos anteriores, são as semelhanças – cada vez
maiores, à medida que o tempo passa. O governo FHC é
considerado uma “herança maldita”. Mas a política econômica que
privilegia o capital financeiro permanece de pé: os bancos tiveram mais
lucros nos governos do PT do que antes. E estes governos introduziram
medidas que favoreceram ainda mais os investidores financeiros ao
isentá-los, em vários casos, de imposto. Não foi feita nenhuma reforma
estrutural nas estruturas geradoras da desigualdade no país. No entanto,
foram feitas reformas estruturais para atender aos interesses do
capital, como a reforma da previdência do setor público, aprovada no
primeiro ano do governo Lula.
Os recursos do país: para quem vão prioritariamente?
Se queremos saber para quem o governo trabalha, temos de examinar o
orçamento realizado: para onde estão indo os recursos? Os recursos do
país são destinados fundamentalmente ao pagamento da dívida pública,
interna e externa, e de seus juros. A dívida externa chegou em dezembro
de 2012 a 441 bilhões de dólares e a dívida interna a 2 trilhões e 823
bilhões de reais (cf. Auditoria Cidadã da Dívida).
O orçamento realizado de 2012 mostra que 44% do nosso dinheiro foi
usado para os juros, amortização e rolagem da dívida, enquanto que
apenas 5% para a saúde e 3% para a educação. Em suma, o destino de quase
metade do orçamento é a pequena camada mais rica do país – que são
aqueles que recebem os juros da dívida -, além dos credores externos.
Cada décimo de aumento dos juros pelo Banco Central significa maiores
ganhos para os que já são muito ricos.
Portanto: o primeiro setor cujos interesses são atendidos é o capital financeiro (bancos e investidores financeiros)
Obras de infraestrutura: para as empreiteiras
Mas, há um segundo setor que é também privilegiado pelo governo: são as grandes empreiteiras – Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez... Elas estão em todas as grandes obras de infraestrutura do país, entre as quais as usinas hidrelétricas – Belo Monte é o exemplo mais notório – e até na do Maracanã. Em 1993, durante a CPI do Orçamento, o senador José Paulo Bisol
havia denunciado a existência de um “governo paralelo” no país: eram as
grandes empreiteiras, que distribuíam entre si as licitações das obras
públicas. Denunciou, mas nada aconteceu... A maior parte destas obras
são financiadas pelo BNDES, com recursos públicos, portanto.
Estas empreiteiras são também, junto com os bancos, as principais
financiadoras das campanhas eleitorais. Este dado nos ajuda a entender o
empenho do governo na realização de certas políticas – os megaprojetos,
por exemplo, as privatizações, outro exemplo – e no impedimento de
controles sobre o capital – a não realização da auditoria da dívida, por
exemplo.
Portanto, o segundo setor cujos interesses são atendidos é constituído pelas grandes empreiteiras.
O agronegócio: o grande aliado do governo no campo
E há um terceiro setor que tem recebido muito apoio do governo: o
agronegócio. O governo ajuda a agricultura familiar, sem dúvida, mas a
proporção é de 90% para o agronegócio e 10% para a agricultura familiar.
Esta é a razão pela qual, em dez anos de governos do PT, a reforma
agrária não avançou: o principal aliado do governo no campo é o
agronegócio, não os movimentos sociais. E certas medidas que favorecem
este setor acabam sendo aprovadas no Congresso – o Código Florestal -, porque o governo não quer perder este aliado.
Portanto, o terceiro setor cujos interesses são atendidos é o agronegócio.
Povos indígenas: pedra no caminho do agronegócio, de megaprojetos de infraestrutura, de grandes mineradoras
O governo está ressuscitando a política indigenista da ditadura, para
a qual "o índio não pode atrapalhar o progresso do país". O capítulo
sobre os povos indígenas foi comemorado, na época, como um dos mais
avançados da Constituição Cidadã. Pois exatamente os direitos destes
povos originários ás suas terras estão sendo derrubados: pouco a pouco, a
cada nova usina hidrelétrica, a cada nova lei ou portaria (ou
código...), os direitos estão sendo violados e até as demarcações já
feitas correm o risco de serem questionadas. Para atender aos interesses
de setores do capital, este governo está desprezando os direitos dos
povos indígenas.
O sistema tributário reprodutor da desigualdade social permanece
Por outro lado, o Brasil carrega outra “herança maldita”: o sistema tributário regressivo, que o governo FHC
acentuou. Isto significa que, ao invés de distribuir renda, este
sistema concentra renda, é um “Robin Hood” às avessas, tira dos pobres
para dar aos ricos. É um sistema pelo qual os pobres pagam
proporcionalmente mais que os ricos, porque nele o peso maior está no
imposto sobre o consumo. Mesmo aquele que não têm renda para pagar
imposto de renda compra bens, compra alimentos. E no preço dos bens está
incluído o imposto.
Embora tenha introduzido pequenos avanços, no essencial esta herança de FHC
foi mantida pelos governos do PT: a regressividade do sistema
permanece. E a combinação de superávit primário (...) com a política
monetária de juros altos incidentes sobre a dívida pública resulta “num
dos mais perversos mecanismos de transferência de renda dos pobres para
os ricos de que se tem notícia na história do capitalismo. (...) Na
verdade, o mais poderoso mecanismo de concentração de renda na economia é
essa combinação de política fiscal e monetária perversa, onde o Estado
atua como um redistribuidor de renda e de riqueza a favor dos poderosos”
(Assis, 2005: 89) (1).
Um primeiro meio para mudar esta grave injustiça seria fazer uma
reforma tributária, para tornar o sistema progressivo (os que podem
mais, pagam mais). Mas o governo não fez isso: ao contrário, apresentou
um projeto de reforma que não mexe no caráter regressivo e que cortará
recursos da Seguridade Social, se for aprovada.
Haveria uma segunda maneira de reduzir a transferência de recursos
para os ricos: seria a realização de uma auditoria da dívida pública.
Ela provaria que uma parte da dívida que nós pagamos é irregular e isto
reduziria substancialmente a sangria de recursos públicos. A única
auditoria que o país fez, em 1931, concluiu que 60% da dívida não tinham
documentos que a comprovassem. O mesmo aconteceu mais de 70 anos
depois, quando o Equador fez sua auditoria, em 2009:
65% da dívida eram eivadas de irregularidades. Como a nossa dívida
externa foi constituída principalmente durante a ditadura civil-militar
de 1964-1985, quando o Congresso não tinha acesso aos documentos, há
sérias suposições de que parte desta dívida é indevida. O que só uma
auditoria poderia verificar e comprovar (a CPI da dívida evidenciou
várias irregularidades que teriam de ser examinadas, mas PT e PSDB se
uniram para impedir que esta CPI tivesse resultados).
Esta é uma exigência da constituição de 1988, a qual nem o governo FHC nem os governos do PT
puseram em prática. Preferiram favorecer os poucos privilegiados que
ganham com a manutenção do status quo. E desfavorecer os muitos que
sofrem as consequências de os recursos públicos não serem empregados
onde deveriam: pois esta é a razão da falta de recursos suficientes para
a saúde, a educação, o transporte, o saneamento básico, para os
serviços públicos em geral.
Havia ainda uma grande diferença entre o governo neoliberal de FHC e os governos do PT: as privatizações. No entanto, o governo Lula
não fez uma auditoria das privatizações, como se esperava; não
reestatizou nenhuma das empresas privatizadas, como fez o governo Evo Morales. O governo Lula privatizou algumas rodovias federais e o governo Dilma passou a privatizar tudo: portos, aeroportos, rodovias, hospitais universitários e até riquezas estratégicas como o petróleo.
O governo FHC havia quebrado o monopólio da Petrobras e 60% das ações desta empresa estão hoje em mãos privadas. O governo Lula não reverteu este processo. O governo FHC iniciou em 1997 o leilão das áreas de exploração do petróleo. Os governos Lula e Dilma não interromperam os leilões, apesar de reiterados protestos dos movimentos de trabalhadores, especialmente dos petroleiros. O governo Dilma promoveu o leilão de petróleo do campo de Libra
– cujas reservas valem no mínimo 1 trilhão de dólares - e tem ignorado
solenemente a oposição dos movimentos sociais. O petróleo é nosso? Não,
parte dele será das empresas privadas e estatais estrangeiras que
venceram este leilão, assim decidiu o governo brasileiro. É como se só
devesse satisfação ao setor privado, às multinacionais: os interesses do
país, as reivindicações dos movimentos populares não são prioritárias.
O que traria a volta da direita?
Privatizações? Leilões do petróleo? de áreas do pré-sal? Avanço do
agronegócio? Usinas hidrelétricas na Amazônia? Perda de direitos dos
povos indígenas? Tropas militares para enfrentá-los? Código Florestal?
Plantio de transgênicos? Aumento do uso de agrotóxicos? A não realização
da reforma agrária?
Tudo isso está sendo feito por este governo.
Com exceção dos líderes do PSDB, todos os líderes da direita são hoje aliados do governo: Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Collor, Maluf, Sérgio Cabral, Kátia Abreu...
Apesar de sua prática, de suas políticas fundamentais, o governo
mantém um discurso de esquerda, de quem defende os direitos dos pobres e
oprimidos e que "a direita quer solapar", "olhem o que a grande mídia
diz de nós". Os movimentos de trabalhadores e demais movimentos sociais
veem suas reivindicações desprezadas (povos indígenas), não atendidas
(reforma agrária) ou mal atendidas (recursos para a agricultura
familiar).
Movimentos sociais e entidades da sociedade civil precisam
constantemente se mobilizar, denunciar, fazer pressão, para evitar perda
de direitos, para evitar retrocessos maiores. E a maioria das vezes não
o conseguem (Libra é apenas um exemplo).
Apesar da defesa e do apoio de alguns movimentos sociais, o governo
nunca se sentiu obrigado a cumprir os compromissos assumidos com relação
aos trabalhadores: nem a reforma agrária, nem a auditoria da dívida,
nem a defesa das terras dos povos tradicionais...
A grande mídia é denunciada por autoridades públicas como parcial,
agressiva, injusta com o governo, adepta de uma postura demolidora. Mas o
governo nada faz para democratizar os meios de comunicação no Brasil,
nada faz para quebrar o oligopólio existente, através da regulamentação
do setor, que permitiria abrir o espectro das comunicações para outros
atores. Por que? Porque, na verdade, apesar das críticas a aspectos
secundários, a grande mídia apoia todos os projetos importantes do
governo: o pagamento da dívida sem auditoria, os aumentos da taxa de
juros (supostamente para conter a inflação), as usinas hidrelétricas na
Amazônia, a transposição do S. Francisco, o leilão de Libra... As
críticas da grande mídia mantêm a aparência de que os interesses da
direita não estão sendo atendidos e que o governo é "de esquerda". A
manutenção desta aparência interessa aos que querem se manter no poder.
Na verdade, o governo receia a entrada em cena de outros meios de
comunicação, capazes de trazer outras opiniões, de fazer a crítica a
aspectos centrais da atual política. É por isso que, neste campo, tudo
fica como está.
Existe uma direita mais à direita que este governo, sem dúvida. Que é
possível piorar, é sempre possível. Mas que este governo está montado
para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, também não há
dúvida. Ele tem certamente várias políticas louváveis, faz o
enfrentamento da pobreza, reduz a miséria, melhora a capacidade de
consumo dos pobres com mais crédito. Mas não muda as estruturas
geradoras da desigualdade social e, por isso, continua transferindo a
maior parte da renda e da riqueza do país para os mais ricos do país e
do mundo. E entregando nossas riquezas naturais para o setor privado e
as multinacionais. Isso mostra claramente a quem este governo serve em
primeiro lugar.
Nota do autor:
1.- ASSIS, José Carlos de (2005). A Macroeconomia do pleno emprego.
In: SICSÚ, João, PAULA, Luiz Fernando de, MICHEL, Renaut (orgs.)
(2005). Novo desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com
eqüidade social. Barueri, Manole; Rio de Janeiro, Fundação Konrad
Adenauer, p. 77-93.
Este Blog é de responsabilidade do coletivo de bancários do PCB-RR no Rio de Janeiro.
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