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terça-feira, 21 de março de 2023

Aumentar idade para a aposentadoria, é bom pra quem?

*Gerardo Santiago

“Como as pessoas estão vivendo mais tempo atualmente, é preciso subir a idade mínima para a aposentadoria ou o sistema previdenciário vai se tornar financeiramente inviável.”
Certamente você já ouviu ou leu o argumento acima inúmeras vezes, repetido de várias formas por um monte de jornalistas, economistas, empresários, burocratas e claro, políticos defendendo alguma “reforma” da previdência social em algum país, invariavelmente para fazer a aposentadoria do trabalhador comum ficar mais distante e mais magra. Dizem todos eles, em coro, que “não há alternativa” e tentam conferir a esse argumento uma natureza “técnica” e “neutra”, sendo qualquer contraponto imediatamente rotulado como “ideológico” ou “político”. Analisemos o tema mais a fundo.

Que as pessoas vivem mais hoje do que há algumas décadas é fato. Na França, onde hoje o governo de Macron tenta impor uma “reforma” dessas pela força, a expectativa de vida é de 83 anos, comparada com 69 anos em 1960. Acontece que não foi só a expectativa de vida que mudou, na França e no mundo.

Se hoje os franceses vivem vinte por cento mais do que há 63 anos, a economia daquele país cresceu 47 vezes nesse mesmíssimo período. A produtividade do trabalho também cresceu enormemente nesse mesmo tempo, graças ao desenvolvimento científico e tecnológico. A população francesa era de 46 milhões de pessoas em 1960 e hoje é de 68 milhões, cresceu 47% no período. Quer dizer, o que mais cresceu entre 1960 e 2022 foi a economia, a riqueza, numa proporção muitíssimo maior que a expectativa de vida (235 vezes mais) e que a população (98 vezes mais). Onde reside então a dificuldade econômica para permitir que os anos de vida a mais dos trabalhadores sejam para viver e não para trabalhar?

Na verdade, não se trata de uma questão “técnica”, mas de uma escolha política: o crescimento da economia e o desenvolvimento científico e tecnológico beneficiarão a quem? Ao povo, aos trabalhadores, ou aos donos do capital que não querem ser tributados para pagar as aposentadorias dos pobres? Essa escolha política é definidora de que sociedade queremos, uma democrática e igualitária ou uma injusta e desigual dividida entre uma pequena minoria privilegiada e uma esmagadora maioria despossuída.

Considerando ainda que o número de postos de trabalho em proporção à população diminui apesar da economia crescer, o que cria um desemprego estrutural, e que são exatamente os trabalhadores mais velhos que tem mais dificuldade de conseguir um trabalho, fica evidente a crueldade e a natureza antipopular das “reformas da previdência” como a de Macron e o que está por trás delas. É a luta de classes, estúpido!
*Gerardo Santiago: Aposentado do BB, Ex-Diretor do SEEB/RIO, EX- Diretor da PREVI, Advogado e Militante do PCB.

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