PCB-RR

domingo, 20 de março de 2016

Construção de um Bloco de Hegemonia proletário-popular é a única resposta possível ao impasse que vive a sociedade brasileira

Assistimos ontem o festival de absurdidades que expressa a forma-consciência de grande parte da pequena-burguesia (ou, se quiserem para ilustrar, a “classe média”) brasileira. Não adianta dizer que o fascismo cotidiano está localizado somente no Sul e no Sudeste do Brasil. Como diz Marilena Chaui, a aberração cognitiva é a essência fundante da consciência da “classe média”.
A pequena-burguesia sempre foi base política do fascismo, isto é até historicamente didático. Basta que lembremos da base social clássica dos fascismos europeus, a pequeno-burguesia e o lumpen proletariado (em alemão, Lumpenproletariat, o proletariado em farrapos – marginais, mendigos, ladrões, etc.), todos com baixa formação cultural, extremamente religiosos, (falsos) moralistas e antidemocráticos, segmento de classe esse, muito bem representado pelo pseudo-teatrólogo nazista Hans Johst, em sua peça Schlageter (1933), quando faz o personagem central de sua trama dizer: “Quando ouço a palavra cultura, saco logo meu revólver” (“Wenn ich Kultur höre … entsichere ich meinen Browning”)
Em períodos de crise e de desorganização proletário-popular a pequena burguesia cresce tendo como discurso ideológico o mais rebaixado senso comum. Isso não é privilégio do Brasil, basta que vejamos o que ocorre na Europa, com as reações mais reacionárias e racistas contra a imigração. Mas não há um crescimento meramente espontâneo. Os fascistas tem seus quadros dirigentes prontos a organizar os setores mais conservadores e despolitizados da sociedade. No caso do Brasil, não há o que tergiversar, isso acontece e a responsabilidade direta é do PT, que está colhendo o que plantou. Pior, plantou e deixou parte dessa colheita para os setores da esquerda antagonista. Herança maldita da socialdemocracia!
A socialdemocracia-tardia aliada com o grupo sindicalista-economicista, os núcleos hegemônicos do PT, assumiu, em 2002, a tarefa de administrar e modernizar o capitalismo brasileiro. Para tal, procurou atrelar o movimento sindical – especialmente a CUT, ao projeto de modernização conservadora, que absorvia a proposta dos setores monopolistas da burguesia brasileira, visando integrá-la ao concerto do capitalismo internacional. Lula não hesitou em golpear o funcionalismo público, atingindo a forma da aposentadoria dos trabalhadores do setor público, retirando suas aposentadorias integrais , sem dar, ao menos, o benefício do FGTS. Dilma em seus governos, foi diminuindo os gastos com políticas públicas e respondeu à crise mundial do capitalismo aderindo à cartilha do FMI e do Banco Mundial, arrochando os recursos para as políticas de caráter social e ampliando as vantagens dos empresários. Mais ainda, os governos petistas distanciaram-se de suas bases sociais, optando por alianças com os setores mais reacionários da política nacional. Na primeira crise de instabilidade econômica, o resultado foi o progressivo esgarçamento dessas alianças e o consequente surgimento de uma articulação para tirar o PT do governo, e devolver a administração do capitalismo à burguesia.
Diante dessa situação de crise, a reação da classe ficou muito prejudicada. De um lado, pelos 13 anos e meio de despolitização e de cooptação, pelos governos petistas, à ilusão de que era possível ao proletariado partilhar as benesses do capitalismo com a burguesia, de que o proletariado estava se transformando em “classe média”. Segundo e, como consequência, a hegemonia socialdemocrata sufocou por décadas os partidos da esquerda antagonista, sempre combatidos pelas direções petistas, hegemonicamente anticomunistas e antissocialistas, que estigmatizaram os partidos revolucionários como “radicais, inconsequentes, porra-loucas, etc.
A despolitização, a hegemonia de uma mídia fuleira, deletéria e fundamentalmente antinacional e antipopular, a cooptação e a inépcia do PT em afrontar a ofensiva da extrema direita e dos setores golpistas, fizeram crescer nos setores desorganizados dos trabalhadores, dos segmentos do precariado a sedimentação de um pensamento ligado ao mais rudimentar e reacionário senso comum, o que Wilhem Reich chamou de a“psicologia de massas do fascismo.”
Como fazer para reagir à crise? Não podemos apoiar uma oposição corrupta e inépta, uma lumpen-burguesia débil e claramente fascista. Temos que ir às ruas apoiar um governo que vem golpeando os direitos dos trabalhadores, que despolitiza sua ação e que alia-se ao mais retrógrado, quando cria a lei antiterrorismo para atingir militantes antagonistas?
É óbvio que o proletariado e seus aliados devem ter independência de classe e autonomia em suas decisões políticas. Diante da atual clivagem e do caráter que se apresenta a radicalização da luta de classes o conjunto dos setores mais avançados do movimento deve apresentar uma proposta, lembrando que há o risco de um hiato de projeto socialista e antagonista, diante da derrocada ideológica, moral e ética do PT.
O âmbito da luta de classes é a realidade objetiva, daí não podemos ler o real a partir do que desejamos que ele seja. Como dizia o velho Lenin, há que se dar respostas concretas à realidade concreta, de modo que não podemos fingir que a radicalização da crise não atingirá diretamente a classe, não somente no plano econômico, mas também no âmbito das liberdades democráticas – como já se verificou no ensaio geral da invasão pela PM de Alckmin, de uma assembleia do sindicato dos metalúrgicos do ABC, em Diadema.
A posição de independência de classe deve estar balizada na imediata organização e aglutinação dos setores vinculados diretamente à luta, quer dizer, chamando os Movimentos Sociais, como o MST e o MTST, e os outros movimentos por saúde educação, defesa ecológicas e do meio-ambiente, os setores do LGBTT, etc, além dos sindicatos e das organizações classistas, que juntamente com os partidos políticos socialistas e revolucionários devem apresentar aos trabalhadores uma alternativa democrático-radical e um projeto econômico que tire imediatamente o país da estagnação, apontando para a necessidade de se ampliar e fortalecer o mercado interno, aglutinando, nessa proposta, as cooperativas de trabalhadores, do campo e da cidade e ampliando as reformas agrária e urbana, na perspectiva de se fortalecer o Poder Popular e as bases social e ideologicamente direcionadas ao socialismo.

Somente a organização independente dos trabalhadores poderá dimensionar a ação consequente do proletariado nesse contexto de crise. Para tanto, é fundamental construir um Programa Político de Unidade das Esquerdas Socialistas e Revolucionárias, que seja amplamente discutido com os setores organizados do proletariado. A construção de um bloco de hegemonia proletário e popular é a única resposta ao impasse que vive a sociedade brasileira.
Antonio Carlos Mazzeo é do CC do PCB
Fonte: pcb.org.br

terça-feira, 15 de março de 2016

Os Dois Fardos

Estamos próximos da cifra de dez milhões de desempregados, os salários estão em queda, os serviços públicos desmontados, a violência urbana em níveis alarmantes, em resumo, vivemos uma crise econômica e social sem precedentes.
Em meio a tudo isso, temos dois blocos políticos disputando o poder. O primeiro é governista, social liberal, tentando aplicar o receituário tradicional do capitalismo em crise: arrocho contra o povo trabalhador. O segundo é oposicionista conservador, pregando a mesma receita do primeiro. Os dois, além do programa econômico, têm mais uma faceta em comum, estão atolados nos escândalos de corrupção.
Esses dois blocos políticos, que governam gerenciando o capitalismo no Brasil há mais de trinta anos, convocam aqueles que sofrem as consequências da crise, ou seja, os trabalhadores, para manifestações contra ou a favor do impeachment da atual presidente.
Os dois blocos em confronto são como dois fardos que carregamos nas costas, a crise os torna ainda mais pesados. Como diria um velho político gaúcho, temos aí uma ótima oportunidade para dar um “rotundo não” a essas duas arapucas armadas contra o povo trabalhador. Iremos sim às ruas, às greves, às ocupações, mas será contra os planos de exploração capitalista!  

                                                                                                                                                  Ney Nunes

segunda-feira, 7 de março de 2016

CORTES, REESTRUTURAÇÕES E AMEAÇAS DE PRIVATIZAÇÃO: INSEGURANÇA PARA OS EMPREGADOS DA CAIXA

           
2016 não começou trazendo boas novas aos colegas da Caixa Econômica.

Pra começar, a deflagração de um novo Plano de Apoio à Aposentadoria (PAA) significa a saída de aproximadamente 1.500 colegas sem reposição de vagas – e a Caixa já afirmou clara e duramente que não pretende contratar mais aprovados no concurso de 2014.

Isso é um absurdo! Até a portaria do DEST - Departamento De Coordenação e Governança Das Empresas Estatais, órgão do Governo Dilma – define que a quantidade máxima de empregados autorizados para a Caixa é de 97.732 – e hoje, antes do PAA, a Caixa tem menos de 97.500 empregados; ou seja: mesmo pelos critérios arrochantes de Dilma, a Caixa poderia contratar agora 290 concursados e repor todas as saídas do PAA 2016. A recusa de novas contratações só provoca o que estamos vendo: sobrecarga de trabalho - especialmente nas agências (e mais especialmente ainda nas agências novas e pequenas), uma boataria sem fim de planos de extinção de unidades e agências,e um enorme crescimento do adoecimento de colegas.

Mas as más notícias não param por aí. O mais grave é que já está na pauta do Senado o malfadado PL 555 – mal denominado “Lei de Reponsabilidade das Estatais” – que obriga a Caixa a tornar-se Sociedade Anônima. Embora seja um projeto com “DNA tucano” – apresentado por senadores do PSDB – tem o apoio de Renan Calheiros e o governo Dilma o apóia por debaixo dos panos: a Portaria do DEST que especificou a quantidade máxima de empregados chama a Caixa de Caixa Econômica Federal S.A.!

Num quadro desses de ataques, não basta que a FENAE e os sindicatos convoquem “ato de protesto” na porta do prédio da Barroso. Precisamos organizar um forte movimento de luta dos empregados contra a privatização da caixa e por mais contratações já! Junte-se á Oposição bancária Unificada e vamos construir esse movimento.

UM GOVERNO DE MULHER... SQN!

O governo Dilma prepara mais um ataque às trabalhadoras e trabalhadores brasileiros através de uma nova reforma da previdência. Nesta, além do aumento da idade mínima para aposentadoria, a reforma de Dilma pretende igualar o tempo para aposentadoria entre homens e mulheres – aos 65 anos. 

Para convencer trabalhadoras e trabalhadores, o governo argumenta que as mulheres têm uma maior expectativa de vida que os homens, o que faz com que recebam o benefício por mais tempo. Mas o que este mesmo governo esconde é o altíssimo nível de exploração e opressão que sofre o conjunto das mulheres trabalhadoras brasileiras, que configuram metade da classe trabalhadora no país. A combinação exploração/opressão tem se manifestado nas diferenças salariais entre homens e mulheres no desempenho da mesma função, nas desigualdades impostas às mulheres no acesso a oportunidades em sua carreira e na ampla utilização do assédio sexual e moral como ferramentas de gestão, que atingem principalmente as mulheres trabalhadoras.

Nos bancos essa realidade é evidente, e com o aprofundamento da crise vem se agravando. Mesmo auferindo mais um lucro recorde divulgado recentemente, os bancos têm adotado diversas medidas para continuar aumentando seus lucros, como demissões, reestruturações e redução de despesas administrativas que levam à precarização das condições de trabalho. As mulheres são, sem dúvida, o setor mais vulnerável e que sofre maiores impactos com estas medidas, que vêm acompanhadas por investidas assediadoras, sejam estas sexuais e/ou morais, amplamente utilizadas na tentativa de garantir o cumprimento de metas e resultados que possibilitem a continuidade de obtenção dos altos lucros, empurrando a conta da crise para as trabalhadoras.

É inaceitável que um governo de uma mulher também se omita no que diz respeito à dupla e tripla jornadas as quais estão submetidas as mulheres trabalhadoras. Segundo dados do IBGE relativos a 2014, a jornada de trabalho dedicada às tarefas domésticas do homem casado e com filhos é 1/3 do tempo gasto pela mulher. Torna-se claro através dos dados que os homens se casam e reduzem significativamente seu compromisso com as tarefas de casa, que são as responsáveis por criar as condições necessárias para que a próxima jornada de trabalho remunerado possa se realizar, garantindo assim o lucro dos patrões. Fruto do machismo, esta desigualdade pesa sobremaneira nos ombros das mulheres.

Para barrar a reforma da previdência proposta pelo governo Dilma é necessário que as trabalhadoras se organizem. A Oposição Bancária Unificada convida a todas as bancárias para o Ato de 8 de março, quando diremos ao governo e aos patrões que não vamos permitir mais nenhuma retirada de direitos. Pelo contrário, devemos avançar em nossas conquistas! Chega de exploração! Pelo fim da opressão às mulheres!

Oposição bancária/RJ

quarta-feira, 2 de março de 2016

A barbárie já começou

Vivemos uma das maiores ofensivas do capital em toda a história, quiçá a maior, por todo o planeta. Acuada por uma crise internacional sem precedentes, diante de uma inédita crise sistêmica completa, como afirma o professor Edmilson Costa, a burguesia agride os trabalhadores e os povos nos cinco continentes, sem distinção.

O desespero da elite é tamanho que sua faceta mais hedionda, o fascismo, já se manifesta claramente, tendo inclusive chegado ao poder sem qualquer disfarce na Ucrânia. Sua outra faceta extremamente conversadora, a tradicional ditadura, mantém o poder na Arábia Saudita, o principal comprador de armas em nível internacional, aliado aberto dos EUA e Israel na desestabilização do Oriente Médio.


Recentemente, os conservadores venceram as eleições em Portugal, o Siryza tirou a máscara e adotou a política preconizada pelo Troika, sua faceta espanhola, o Podemos, ilude aquele povo se apresentando como a principal “oposição” ao capital, os países mais ricos, como França, Inglaterra e Alemanha, há muito vivem sob o domínio da parcela mais avançada do capital financeiro internacional. O banco Goldman Saches predomina na Europa.

A África segue sua sina histórica de maximização da exploração, com seus povos pagando os lucros do capital com sangue, vidas e lágrimas. A cultura mais antiga do planeta, o berço da Humanidade, sofre por suas riquezas naturais e proximidade com a Europa e os EUA.

Até mesmo o povo dos Estados Unidos, núcleo central do capitalismo, é vítima da violência, do desemprego e da miséria nunca dantes vivenciados, superiores a crise de 1929.

Suas garras alcançaram a América do Sul, nos últimos 20 anos o principal pólo de desenvolvimento das forças progressistas em nível mundial. Tomaram o parlamento na Venezuela, impediram novo mandato de Evo Morales na Bolívia, derrotaram o sucessor de Cristina Kirchner na Argentina, fecharam um acordo com Cuba para tentar reduzir sua influência e esconder seus reais objetivos de destruição do socialismo na heroica ilha.

O Brasil não foge da sina internacional. Aquele que um dia cantou “verás que um filho teu não foge à luta” tem um governo submisso ao capital, ainda ludibriando os trabalhadores e tentando chegar ao final do seu mandato, por mais que seja aos trancos e barrancos. Seu objetivo é alcançar 2018, na expectativa de seu líder messiânico reverter a crise e aplacar a ira popular. Como se isso fosse possível com tamanha subserviência ao capital.

A falsa oposição cresce diante da inviabilidade de continuidade do projeto da aristocracia operária, outrora menina dos olhos da burguesia. Face a necessidade de crescimento sistemático dos seus lucros, a burguesia aposta suas fichas no projeto que permite acelerar a entrega das riquezas nacionais e aviltar, ainda mais, os direitos dos trabalhadores.

É nesse contexto que se dá a entrega do pré-sal para as multinacionais, o enfraquecimento da Petrobras, a privatização da Educação e da Saúde pública, a corrupção desenfreada, a reviravolta nas terras indígenas, a agressão ao meio ambiente (vide usina de Belo Monte), os assassinatos dos jovens negros mais carentes pelas polícias militares, a liberdade da Samarco e da Vale, a inocência de FHC, Alckmin, Aécio etc. Nunca os bancos lucraram tanto em solo pátrio.

Os aspectos sociais da crise sistêmica se fazem sentir de forma inaudita, atingindo diretamente a população conforme demonstra o corpo daquele menino imigrante na praia, um cadeirante palestino ser agredido pelo exército israelense, o roubo da merenda escolar de crianças carentes, os indígenas brasileiros bombardeados por agrotóxicos a mando dos ruralistas, os povos do continente-mãe morrerem de fome e tantos outros crimes impunes se multiplicarem pelo planeta.

Barbárie ou socialismo? Já estamos na barbárie. Em seu início, mas é a barbárie. Daí vermos inúmeras reações dos trabalhadores, das comunidades, dos indígenas etc. Apesar disso, é preciso radicalizar e ampliar as lutas, resistir, garantir os direitos e alçar novas conquistas.

Está na hora de romper as amarras e aproveitar a oportunidade histórica que se nos apresenta.



Afonso Costa

Jornalista.